4 DE MAIO DE 2018
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Seria, assim, importante e muito mais transparente que restringíssemos o conceito de benefício fiscal e
minimizássemos a sua existência; que tivéssemos uma visão muito mais restrita do conceito de benefício fiscal,
em nome dessa igualdade entre todos os contribuintes, sem exceção; que a sua criação e natureza fossem
efetivamente de caráter excecional e que tivessem sempre subjacentes pressupostos claros e transparentes;
que a sua vigência no tempo fosse efetivamente temporária, limitada, e não como hoje acontece, em que muitos
desses benefícios perduram por um tempo indefinido, quase indeterminado; e, finalmente, que se tenha coragem
para ter um sistema fiscal de base mais competitiva, que seja mais amigo do investimento, em que o foco não
seja sempre a angariação exponencial de receita fiscal mas, sim, o cumprimento do princípio da capacidade
contributiva e que o cumprimento desse princípio seja mais do que um princípio, seja uma realidade.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Almeida, do
CDS.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente. Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs.
Deputados: O regime fiscal, principalmente na tributação das empresas, deve ter como virtudes a estabilidade
e a competitividade.
Acontece que a discussão que hoje, aqui, estamos a ter e todo o contexto em que a fazemos prova que,
principalmente no que diz respeito à primeira destas virtudes, Portugal está muito longe de conseguir cumprir
aquele que deve ser o objetivo de uma política fiscal de tributação das empresas.
Sucessivamente — não é uma questão deste ou daquele governo —, discutimos benefícios, como já foi dito,
derrogações ao regime geral, andamos sempre a discutir a exceção e esquecemo-nos de discutir o essencial.
Aquilo que tira competitividade à economia portuguesa não é a exceção, é a regra. A regra é que está errada.
Temos uma taxa de tributação das empresas alta demais para o que deveria ser a competitividade da nossa
economia. Olhamos para os nossos parceiros e é evidente que todos os que crescem mais que nós —
infelizmente, mesmo nesta conjuntura positiva, são muito os que crescem mais que nós — têm uma taxa de
tributação das empresas inferior à que nós temos.
Portanto, uma boa discussão sobre esta matéria seria uma discussão de eliminação de benefícios fiscais, é
verdade, de redução da despesa fiscal, é verdade, de redução das taxas, e, diriam os Srs. Deputados, então,
de redução da receita. Não necessariamente. Aí é que está a questão. A competitividade vê-se exatamente por
isso. Se conseguirmos baixar as taxas a um nível em que com isso consigamos compensar a diminuição de
receita inicial com receita que passamos a obter por atrair novo investimento estamos a ganhar a competitividade
que de outra forma não temos.
Continuarmos a discutir benefício a benefício, exceção a exceção é meio caminho andado para continuarmos
a não conquistar essa competitividade de que precisávamos.
É certo que com o relatório que agora aqui é trazido, e principalmente com aquele que decorre do que agora
é conhecido, abrimos o caminho para uma discussão mais profunda sobre cada um dos benefícios fiscais, e
isso é bom.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Isso é bom!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — É insuficiente com o relatório que temos. Uma análise
quantitativa e, ainda por cima, quantitativa parcial é muito pouco, precisamos de uma análise qualitativa para
percebermos custo-benefício o que, efetivamente, faz falta.
Mas, Sr. Secretário de Estado, havendo abertura para discutir na especialidade cada um deles — porque
temos opinião diferente sobre cada um destes benefícios fiscais —, o CDS tem para si muito clara a posição
fundamental nesta matéria e tem apresentado em todos os Orçamentos do Estado a sua proposta para que
assim seja.
Neste momento, com uma conjuntura tão positiva, devíamos estar a aproveitá-la para conseguir ganhar a
competitividade que não tivemos noutras alturas, para ter o investimento que não tivemos noutras alturas e que
continuamos a não ter, para as nossas empresas terem mais força, que ainda não têm, em mercados em que