I SÉRIE — NÚMERO 83
16
sentido se observadas em conjunto. Estas políticas pretendem definir um novo paradigma para a habitação,
tanto no acesso à habitação, como no mercado do arrendamento, como também no apoio social a famílias que,
por meios próprios, não conseguem aceder a uma habitação condigna.
O Grupo Parlamentar do PS fez exatamente o mesmo, ou seja, apresentou uma lei de bases da habitação,
uma lei que serve de base e dá sentido a políticas concretas, mas que sejam orientadas todas elas segundo os
mesmos princípios.
Ora, este rol de iniciativas, que os senhores aqui apresentaram e as outras que deram entrada e que foram
retiradas desta discussão, só farão sentido se forem discutidas em conjunto na especialidade e na Comissão
competente para tratar os assuntos da habitação. Caso contrário, e indo buscar a história do marceneiro que
referi há pouco, em vez de ajudarem a construir um móvel onde todas as peças encaixam e em que não seja
preciso andar a remendar de vez em quando, os senhores vão limitar-se a espalhar a serradura, como fazem
os bombeiros na estrada quando há algum acidente. Se calhar, é esse mesmo pensamento que está por detrás
desta profusão de iniciativas!? É a má consciência de uma lei do arrendamento urbano que tem provocado
desastres, porque não foi acompanhada e enquadrada por um conjunto de instrumentos que salvaguardassem
as famílias que hoje se veem desprotegidas.
Por isso, pergunto: estarão os Srs. Deputados do PSD e do CDS dispostos a discutir estas propostas, em
sede de especialidade, em conjunto com as outras que foram aqui discutidas na semana passada?
E, já agora, pergunto à direita despejada, como diria o Deputado do Partido Ecologista «Os Verdes», o
seguinte: se o Governo não tivesse apresentado a nova geração de políticas de habitação e se o Grupo
Parlamentar do PS não tivesse apresentado a proposta de lei de bases da habitação, teriam os senhores
apresentado, hoje, esta quantidade de propostas avulsas que aqui estão a ser discutidas?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias,
do PCP.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado António Costa Silva,
ouvimos com atenção o discurso que acabou de fazer, um verdadeiro exercício de hipocrisia política que trouxe
a este debate.
Ouvimos a sua tentativa de transformar este debate num debate de assistencialismo caritativo, procurando
remeter para a condição de nota de rodapé as pessoas que foram «dinamizadas» da porta para fora, que foram
verdadeiramente expulsas das suas casas, dos seus bairros e até das suas cidades.
Não estamos só a falar dos processos formais de despejo; estamos a falar das pessoas que não aguentaram
o novo valor que foi imposto para a sua renda e que, por isso, viram-se na obrigação de sair da cidade em que
viveram a toda a vida. É isto que está a acontecer!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Mas, curiosamente, ou talvez não, diria significativamente que o que não ouvimos
na sua intervenção foi uma única frase, uma palavra, um só suspiro que fosse em relação à situação de
desespero verdadeiro que enfrentam milhares e milhares de micro, pequenas e médias empresas da
restauração, do comércio, dos serviços e até da pequena indústria, em resultado dessa lei do arrendamento
urbano de que os senhores tanto gostam.
O Sr. Deputado ignorou completamente a situação destas empresas, porque o PSD e, já agora, também o
CDS, na prática, na verdade, na ação política ignoram e desprezam, de facto, a realidade das micro, pequenas
e médias empresas, do valor que elas criam na economia portuguesa, dos postos de trabalho que permitem
criar e manter, o próprio investimento e o valor acrescentado aos imóveis e aos locados, que resulta da presença,
da permanência e da identidade histórica e cultural das cidades, que resulta da presença e da atividade de
tantas destas empresas, destas lojas, destes restaurantes, destes serviços e que foram expulsos para uma
realidade completamente de extinção da sua atividade, porque foi disso que se tratou.