I SÉRIE — NÚMERO 83
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Dê um exemplo. Nem uma para amostra!
O Sr. António Costa Silva (PSD): — … para além daquelas que estão em debate.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Segue-se a intervenção do Sr. Deputado João Torres, do PS.
Faça favor.
O Sr. João Torres (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O agendamento potestativo desta sessão
plenária, uma marcação do CDS, só pode ser encarado com ironia. As políticas públicas de habitação, e muito
particularmente no que diz respeito ao arrendamento urbano, foram, durante décadas, o parente pobre da nossa
democracia.
As consequências estão à vista de todos e são sentidas em todo o País, com especial incidência nos centros
urbanos. Famílias que vivem sem condições de dignidade, idosos ou cidadãos com deficiência que estão hoje
entregues à sua sorte, jovens estudantes deslocados que adiam a sua emancipação ou, pura e simplesmente,
não encontram um local para viver, rendas que consomem os escassos recursos financeiros de que cidadãos e
agregados familiares inteiros dispõem, escassez de oferta, ausência de opções e alternativas, esta é a realidade.
Em Portugal, há apenas 2% de fogos com apoio público, em claro contraste com a realidade dos países mais
desenvolvidos da Europa, onde este valor se cifra, muitas vezes, nos 10%, 20% e mais. Em resultado do
inquérito mais detalhado alguma vez realizado no nosso País, verificou-se que existe uma carência de 20 000
habitações condignas.
A ausência de intervenção neste setor pode até percorrer diferentes governos, mas o agravamento das
dificuldades de habitação, hoje não exclusivas das famílias mais carenciadas, extensível às classes médias, tem
rostos e protagonistas muito concretos. E é por isso que a direita se sente tão incomodada. PSD e CDS
apresentam-se neste debate de consciência pesada, mas, até este momento, sem um pingo de arrependimento.
PSD e CDS acordaram tarde para o problema, vêm a reboque do Governo, que já apresentou a nova geração
de políticas de habitação, vêm a reboque do Grupo Parlamentar do PS, que já apresentou um projeto de lei de
bases da habitação. Mas PSD e CDS não só acordaram tarde para este debate como, na verdade, continuam
a não compreender a magnitude deste problema. O que PSD e CDS hoje propõem a esta Câmara não é mais
do que parar o vento com a mão.
Para situar politicamente este debate, há que recordar o último que tivemos sobre o mesmo assunto. É caso
para dizer, Sr.as e Srs. Deputados da direita, que sabemos o que VV. Ex.as disseram na sexta-feira passada, tal
como sabemos, e os portugueses também, o que fizeram quando exerceram responsabilidades governativas.
Hoje, trazem a debate nove iniciativas — um projeto de lei e oito projetos de resolução —, algumas boas
intenções, mas, Srs. Deputados, permitam-me, alguma falta de noção.
O CDS propõe um novo sistema de fundos de reserva para os edifícios. Sim, é uma boa intenção, mas parece
mais interessado na sua fiscalização pública por parte dos municípios do que na sua constituição. Não tem
noção.
Protestos do CDS-PP.
Propõe a criação de um regime jurídico para o seguro de renda. Sim, é uma boa intenção, mas a sua
existência não depende apenas de uma alteração ao ordenamento jurídico. Não tem noção.
Propõe o reporte à Assembleia da República de todos os imóveis associados ao Fundo Nacional de
Reabilitação do Edificado. Sim, é uma boa intenção, mas o Governo e a entidade gestora do Fundo já estão
obrigados a prestar essa informação à entidade reguladora respetiva. Mais uma vez, não tem noção.
Protestos do Deputado do CDS-PP João Gonçalves Pereira.