I SÉRIE — NÚMERO 65
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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Exatamente!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Nós somos daqueles que sempre disseram que a aposta na procura
interna, só por si, esquecendo o investimento, esquecendo as exportações, é errada do ponto de vista de um
crescimento sólido, sustentado, firme e consistente, que era, certamente, o que todos nós deveríamos querer.
Mas esta opção pelo consumo, mais ideológica do que pragmática, levou o Governo a adiar o apoio à
internacionalização da economia, o apoio às empresas, o apoio aos empreendedores, que, nos últimos anos,
muitas vezes de forma heroica, conseguiram conquistar cotas em novos mercados para os produtos e serviços
portugueses e ajudaram e ajudam muito ao crescimento da nossa economia.
Numa economia tão pequena e aberta como a nossa, aumentar a procura interna para fazer crescer a
economia é um arcaísmo e, acima de tudo, um arcaísmo de quem aprendeu pouco com os erros do passado,
os erros que nos levaram exatamente à bancarrota.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — O Governo, para agradar às suas esquerdas, pôs o foco no consumo
e demorou mais de um ano a corrigir essa orientação. Em política, erros de orientação estratégica pagam-se
caro e esse erro levou-nos a um crescimento que, infelizmente, nos aproxima mais da cauda da Europa e não
dos países mais ricos e mais prósperos.
Talvez isso explique o facto de o Governo ter aprovado, um ano e onze meses depois de ter sido anunciado,
mas mais de dois anos depois de termos Governo constituído, um programa — o Programa Internacionalizar —
, que é um cabaz de 56 medidas, muitas delas tão genéricas que duvidamos que alguma vez possam vir a ser
concretizadas. Cinco meses depois da sua aprovação, cumpre-nos agora fazer uma avaliação: quantas destas
medidas foram implementadas?
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Já foi respondido!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Na última avaliação, feita pelo próprio Governo, das 56 medidas
propostas ainda não tinha sido concluída uma única. Hoje, o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros diz-nos aqui
que, dois anos e meio depois de termos Governo, aprovaram o novo estatuto jurídico das câmaras de comércio.
Isto, Sr. Ministro, numa linguagem que, certamente, qualquer socialista percebe, é muito poucochinho.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Pior, quando nós percebemos que estas medidas estão por
concretizar, somos sempre criticados. É por isso que peço que ponham os olhos no que escreveu o Presidente
da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), António Saraiva, parceiro social, a propósito de medidas do
Programa Internacionalizar, e que passo a citar: «O fundo 200M, de 200 milhões, destinado a apoiar operações
das PME, foi anunciado em novembro de 2016 na primeira Web Summit, foi aprovado em agosto de 2017, em
outubro foi publicada a legislação que o criou, já este ano soube-se que seria a PME Investimentos a sua
entidade gestora, no início de abril foi anunciado que até ao final do mês iria entrar em funcionamento, o certo
é que 18 meses se passaram desde que foi anunciado e ainda não chegou, de facto, a nenhuma empresa».
Se olharmos para as medidas do Programa Internacionalizar, percebemos que muitas delas foram
anunciadas, algumas foram anunciadas duas vezes, outras foram mesmo anunciadas três e quatro vezes, mas
a verdade é que não chega um cêntimo, não chega um euro às PME, e isso era o mais importante.
Também nesse sentido percebemos que, mais uma vez, há um erro relativamente ao modelo de crescimento
económico que este Governo está a propor. A verdade é que o investimento externo de base industrial, que é
muito importante para garantir o crescimento da economia no futuro, de acordo com os dados do Banco de
Portugal, caiu, de 2015 para 2017, mais de 2000 milhões de euros. A isto não é alheio o facto de termos, neste
momento, a carga fiscal mais elevada de sempre, que é o peso dos impostos dividido pela riqueza do País, e
curiosamente, a partir do momento em que os senhores retiraram a medida de descida do IRC, o investimento
direto do estrangeiro de base industrial travou em Portugal.