19 DE MAIO DE 2018
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No ano 2050, não será usado petróleo no nosso País? Será! Setores como o da aviação, o do transporte
marítimo e o da fabricação de betuminosos não parecem poder dispensar, nem naquele ano, o uso do petróleo
e dos seus derivados.
Portugal importa hoje cerca de 80 milhões de barris de petróleo por ano. Se atingirmos o nosso objetivo —
ser neutro em carbono —, esse número será reduzido para 10 a 15 milhões de barris, no ano de 2050. Até lá,
importaremos 1500 milhões de barris. O uso do petróleo provoca emissões, seja ele explorado onde for.
Neste momento, estamos a conhecer os nossos recursos para saber se há ou não petróleo. Se houver e
para a sua prospeção — a lei a isso obriga, sem dúvidas —, terá de ser feita uma avaliação de impacte ambiental.
Reconhece o Governo que herdou o presente contrato e que a utilização e a exploração de petróleo é um
tema a ser discutido pela sociedade portuguesa.
Por essa razão, o Governo decidiu o estabelecimento de uma moratória até ao final da presente Legislatura
para a pesquisa do petróleo, não sendo possível a atribuição de quaisquer novas licenças com esse fim.
A discussão pública será feita a partir do momento em que o Governo tenha em sua posse os cenários para
a neutralidade carbónica no País em 2050, ou seja, em outubro próximo. Mas não é só uma discussão sobre se
o queremos explorar, é também discutir se o queremos usar e se conseguimos mesmo viver sem ele.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Paulo Sá
e Heloísa Apolónia.
Como pretende responder?
O Sr. Ministro do Ambiente: — Em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Com certeza, Sr. Ministro.
Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá, do PCP.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro do Ambiente, em julho de 2016, a
Assembleia da República aprovou um projeto de resolução do PCP, que recomendava ao Governo a realização
de avaliações de impacte ambiental para determinar os riscos resultantes da prospeção e pesquisa de petróleo
e gás natural no Algarve e na costa alentejana e para definir as medidas que devem ser adotadas para eliminar
ou minimizar esses riscos, iniciativa que foi aprovada apenas com o voto contra do PSD.
Apesar de o Governo se encontrar politicamente vinculado ao cumprimento das resoluções da Assembleia
da República, a verdade é que, volvidos 36 meses, o Governo ainda não tinha promovido essas avaliações de
impacte ambiental, pelo que o PCP voltou a apresentar na Assembleia da República, em dezembro de 2017,
um novo projeto de resolução recomendando ao Governo a suspensão das atividades de pesquisa e prospeção
de hidrocarbonetos ao largo de Aljezur até à conclusão, divulgação e discussão pública da avaliação de impacte
ambiental.
Tendo sido aprovada, esta proposta do PCP tornou-se numa resolução da Assembleia da República, mas o
Governo, ignorando, mais uma vez, a tomada de posição do Parlamento, acaba de anunciar que autorizará
atividades de pesquisa e prospeção de hidrocarbonetos ao largo de Aljezur sem a realização prévia de qualquer
avaliação de impacte ambiental.
Esta é uma postura que o PCP rejeita veementemente. Mesmo não sendo obrigatória por lei, a avaliação
prévia de impacte ambiental impunha-se face às legítimas preocupações da população.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Esta postura do Governo torna-se ainda mais grave quando, objetivamente, ignorou
e não deu cumprimento à recomendação da Assembleia da República.
Os projetos de resolução do PCP incluíam, ainda, uma recomendação ao Governo para que realizasse uma
avaliação do impacto que uma eventual exploração de petróleo e gás natural no Algarve e na costa alentejana
poderia ter noutras atividades económicas, em particular no turismo. Tal recomendação, aprovada pela