I SÉRIE — NÚMERO 90
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A pergunta a que temos de responder, Srs. Deputados, não é como queremos que executem a nossa morte
mas, antes, como queremos que nos ajudem a viver até ao fim dos nossos dias. E isso exige fidelidade a valores
fundamentais. Mas hoje exige-se, sobretudo, a devida ponderação naquilo que cada Deputado «disser» daqui
a pouco, com o sentido do seu voto, àqueles que o elegeram, e isso está bem para além das convicções pessoais
de cada um.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Se não existe o direito a ser morto, se a eutanásia não é um ato
médico, se não é apenas uma matéria de liberdade individual e há terceiros envolvidos, se não se trata apenas
de casos excecionais e de terminalidade, se se põe em risco a vida de pessoas mais desprotegidas e se os
cuidados paliativos não chegam à larga maioria dos portugueses, porquê precipitar decisões perigosas?!
Termino, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, sublinhando que, no CDS, temos um percurso sólido nestas
matérias, visando promover uma sociedade mais moderna e inclusiva. Um percurso que se fez de reflexão
ponderada, que se fez de propostas aprovadas neste Parlamento, como a Lei de Bases dos Cuidados Paliativos,
a lei do testamento vital e, mais recentemente, a legislação sobre os direitos das pessoas doentes em fim de
vida e o apoio aos cuidadores.
Continuaremos este percurso, e é esse o compromisso que, hoje, aqui, perante todos, voltamos a assumir:
o de não deixar para trás os que sofrem e estão desprotegidos, o de reforçar a sua liberdade e dignidade,
mantendo sempre o maior e mais relevante dos nossos direitos fundamentais, que é o da proteção da vida de
todos e de cada um.
Aplausos do CDS-PP, de pé, e de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Moisés Ferreira, do
BE, e António Sales, do PS, a quem, suponho, a Sr.ª Deputada responderá em conjunto.
A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Sim, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Tem, então, a palavra o Sr. Deputado Moisés Ferreira.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Isabel Galriça Neto, apenas para que o CDS-
PP não continue a insistir num argumento que é falso e que, por isso, lhe fica mal utilizar, começo por citar o
que consta na página 56 do programa eleitoral, de 2009, do Bloco de Esquerda: «SNS — Novos desafios, novos
direitos ou o reconhecimento do direito à morte assistida e o desenvolvimento da medicina paliativa».
Protestos do CDS-PP.
Não houve recuos na posição do Bloco de Esquerda, houve, sim, desenvolvimentos, e são esses
desenvolvimentos que estamos aqui a discutir.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Oportunismo!
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Não fazemos como o CDS-PP que, apesar de, em 2011, não ter proposto a
restrição do acesso à IVG (interrupção voluntária da gravidez), reformulou a sua posição e aplicou-a no final do
seu mandato.
Não fazemos como o CDS-PP, não se preocupe, Sr.ª Deputada, não traímos o povo, nem restringimos
liberdades.
Aplausos do BE e de Deputados do PS.
A Sr.ª Deputada, como, aliás, o CDS-PP já nos habituou, veio aqui falar de morte assistida mas não disse
nada sobre os projetos de lei.