I SÉRIE — NÚMERO 90
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O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado António Sales.
O Sr. António Sales (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Isabel Galriça Neto, no Juramento de Hipócrates,
que eu mesmo prestei e a senhora também, e que tenho aqui na minha mão, na versão da Declaração de
Genebra, de outubro de 2017, diz-se solenemente: «A saúde e o bem-estar do meu doente serão as minhas
primeiras preocupações». E diz-se ainda: «Respeitarei a autonomia e a dignidade do meu doente».
Sr.ª Deputada Isabel Galriça Neto, com base neste princípio, qual será o nosso papel no prolongar da vida
humana, quando o que está em causa não é a saúde mas, sim, a doença, que destrói, que humilha o ser
consciente da sua condição?!
Aplausos do PS, do BE e de Os Verdes.
Sr.ª Deputada Isabel Galriça Neto, a liberdade individual no contexto da cidadania moderna é compatível
com esta limitação do direito de escolha? O direito à inviolabilidade da vida não deve incorporar o direito à
renúncia, em situações de doença irreversível, com sofrimento extremo?
A Sr.ª Maria Antónia Almeida Santos (PS): — Deve, claro que deve!
O Sr. António Sales (PS): — Sr.ª Deputada, este é um tema balizado por princípios e valores que cada um
de nós valoriza e considera, mas é também influenciado por questões de vivência pessoal e de consciência
individual. Se existe um universalmente aceite direito à vida com dignidade, não pode também deixar de existir
um direito a uma morte em condições de dignidade, sem sofrimento e com afeto.
Despenalizar uma determinada prática não é obrigar quem quer que seja a essa mesma prática.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. António Sales (PS): — A liberdade individual é o bem mais precioso da vida humana.
Aplausos do PS.
Sr.ª Deputada, deixo-lhe, por isso, algumas questões, até sob a forma de reflexão. Não será este um
processo mais adequado e com maior equilíbrio, se enquadrado numa malha legislativa restritiva, conferindo,
assim, uma maior segurança do ponto de vista legal, ético e humano?
Sr.ª Deputada, neste processo legislativo em concreto, não deverá ser assumido por cada Deputado, por
mim, pela senhora, que vote em consciência e que seja capaz de sobrepor à sua opção individual aquilo que
entende que deve ser a liberdade de escolha de cada cidadão?
Sr.as e Srs. Deputados, há quem queira confundir para reinar, no capítulo das vitórias parlamentares. Nós
não vamos por esse caminho, nós nunca iremos por esse caminho. A dignidade humana, na vida e na morte,
merece muito mais de nós.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Galriça Neto.
A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Sr. Presidente, queria agradecer as questões colocadas pelos Srs.
Deputados e dizer que, de facto, sobre a tolerância e a intolerância, serão os portugueses a julgar onde é que
elas se exibem melhor.
Nós não estamos a falar de morte assistida, aquela que é garantida com os bons cuidados de saúde, porque
isso é o que todos os portugueses querem, mas não podemos fazer este debate de forma clara e rigorosa
utilizando eufemismos! Nós estamos a falar de um problema grave, que é o do sofrimento em fim de vida, e o
que nos distingue, Sr. Deputado — o que nos distingue, repito —, é a resposta que queremos dar a este
problema.