I SÉRIE — NÚMERO 91
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No total do envelope nacional para a coesão, estima-se, neste momento, que Portugal vá perder cerca de
1600 milhões de euros, e existe um problema também muito objetivo: é que quase 80% do investimento público
português depende, exatamente, de fundos estruturais e, nomeadamente, dos fundos de coesão.
Portanto, o corte anunciado na coesão significa que muitos projetos que são importantes para o País irão
perder, e muito, e é por isso que temos vindo a criticar esta opção que foi feita pela Comissão Europeia.
Mas há mais: os próprios critérios de distribuição das verbas pelos países estão agora postos em causa e
vão alterar-se, prejudicando, efetivamente, os países mais pequenos. No entanto, retirar esta discussão e tentar
fazer com que a mesma não tenha uma ligação com o que verdadeiramente interessa é fazer a discussão
completamente ao lado.
Srs. Deputados do CDS e do PSD, Portugal vai perder estes fundos de coesão por escolhas políticas da
Comissão Europeia, e não vale a pena estar aqui a tentar desligar as opções de aumento de verbas para a
militarização, por exemplo, dos cortes na coesão e na agricultura.
O Sr. Heitor Sousa (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — São escolhas políticas, e sempre foi disso que se tratou, especialmente no que
toca à Comissão Europeia.
Por isso é que as propostas apresentadas, embora tenham ligeiras diferenças, enfermam todas do mesmo
mal, que é o de uma total falta de autocrítica ao projeto europeu, que tem vindo, objetivamente, a aprofundar as
desigualdades e as assimetrias entre países e regiões, que tem vindo a impor medidas de austeridade
alicerçadas numa ideia de sociedade liberal na economia, mas conservadora nos costumes, e cuja única
resposta que tem para o crescimento dos populismos é o caminho da militarização e do aumento de dinheiro
para a militarização.
Isto nunca contará com o apoio do Bloco de Esquerda, como já o dissemos várias vezes e como dizemos
sempre. No que toca às matérias europeias, temos sido absolutamente coerentes.
No entanto, Srs. Deputados, não deixa de ser incrível a falta de noção quando se criticam os cortes na política
de coesão e na política agrícola comum, ao mesmo tempo que se apoia a inscrição de novas rúbricas de
militarização, controlo de fronteiras, controlo de migrantes. Não, as duas não estão descoladas uma da outra,
Srs. Deputados, e não vale a pena virem tentar fazer esse debate, porque não é verdade.
Já agora, deixo a seguinte questão: será que para o PSD e para o CDS os cortes na coesão são menos
recrimináveis quando servem para aumentar, e muito, a militarização? É isso que nos querem dizer com este
debate? Parece que é, Srs. Deputados. Ao estarem a tentar dividir este debate é isso que fica claro, e é aí
exatamente que está a diferença entre as bancadas da direita e do PS e a do Bloco de Esquerda.
Nesta matéria, sempre fomos muito claros sobre as prioridades políticas que têm sido dadas por parte da
Comissão Europeia, que são erradas e que, objetivamente, prejudicam, cada vez mais, os países mais
pequenos, nomeadamente Portugal.
Portanto, a conclusão que se tira deste debate é a de que, em graus diferentes, CDS e PSD e até PS
continuam completamente iludidos sobre o que é, verdadeiramente, a União Europeia. E é à custa dessa ilusão,
Srs. Deputados, que o próximo orçamento vai ter aumentos para a guerra e para a militarização e vai ter cortes
para a coesão e para a agricultura.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, já ultrapassou o seu tempo.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Foi à custa dessa ilusão que, durante anos, os portugueses foram fustigados por medidas de austeridade, e
é à custa dessa ilusão que, hoje, o Governo português mantém uma obsessão nada saudável com a redução
do défice.
Srs. Deputados, a ilusão não faz caminho na política, nem sequer oferece soluções, como aqui se viu, neste
debate.
Aplausos do BE.