I SÉRIE — NÚMERO 94
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Desde que tomou posse, a Sr.ª Ministra já constituiu mais de uma dezena de grupos de trabalho para analisar
as mais diversas matérias. A verdade, porém, é que o resultado destes grupos de trabalho tardam em aparecer,
arrastando-se os assuntos sem que se saiba quando e como serão resolvidos.
A Sr.ª Ministra da Justiça andou e prometeu aos magistrados judiciais do Ministério Público, bem como aos
funcionários judiciais, que teriam o seu estatuto em vigor em janeiro deste ano e a verdade é que já estamos
em meados do ano e até ao momento a única proposta que existe nesta Assembleia da República para
discussão, e que só foi apresentada em abril passado, é a do Estatuto dos Magistrados Judiciais.
A Sr.ª Ministra estava obrigada a cumprir as normas do Orçamento para este ano, que impunham a
publicação em Diário da República da revisão da lei orgânica e do estatuto da carreira dos conservadores,
notários e oficiais dos registos e do notariado até ao final do mês de janeiro e a verdade é que esse objetivo
está longe de ser cumprido.
A avaliação do Regulamento da CPAS foi anunciada pela Sr.ª Ministra em fevereiro de 2016 e mais de dois
anos depois continuamos praticamente na mesma, já que o Governo ainda não aprovou nenhuma alteração a
este regulamento.
Também há mais de dois anos que a Sr.ª Ministra prometeu rever o Código de Processo do Trabalho,
adaptando-o ao novo Código de Processo Civil e até ao momento nada foi feito nesta matéria.
A revisão do Estatuto do Pessoal da Polícia Judiciária tem vindo a arrastar-se há tempo demais. A prometida
plataforma de entendimento sobre a questão do horário de trabalho do corpo da Guarda Prisional está longe de
ser alcançada, o que cria constrangimentos ao normal funcionamento dos estabelecimentos prisionais.
O sistema prisional continua com graves problemas, sobretudo ao nível do estado das infraestruturas com
áreas muito degradadas e falta de condições condignas para os reclusos, sendo dramática a situação que se
vive em alguns estabelecimentos prisionais, como sejam os casos de Lisboa, de Leiria e de Setúbal.
A sobrelotação continua a ser uma realidade na maioria dos estabelecimentos prisionais. No caso do sistema
prisional, é notório a completa ausência de programação e, em grande medida, de investimento. A única forma
de resolver os problemas neste setor será programar no tempo devido, executar no tempo devido, na medida
das disponibilidades orçamentais do País, e não adiar o investimento durante três anos para o executar à pressa
no último ano.
Sr.ª Ministra, denunciamos os problemas, mas também nos congratulamos com os resultados obtidos em
matéria de pendências e de simplificação processual com a redução do número de processos pendentes, com
reflexos positivos no funcionamento dos tribunais cível, criminal, laboral, administrativo e fiscal, bem como na
ação executiva.
Estes resultados são mérito da Sr.ª Ministra, mas também do trabalho empenhado e abnegado dos agentes
da justiça e, no essencial, também são resultado da reforma do Código de Processo Civil e da reorganização
judiciária, medidas do anterior Governo que introduziram medidas de simplificação que também contribuíram
para este resultado.
Importa também referir as reformas levadas a cabo pelo anterior Governo, nomeadamente na ação executiva,
a aprovação do novo Regime Geral do Processo Tutelar Cível ou a reforma do Código da Insolvência e
Recuperação de Empresas.
Queremos que este bom desempenho nas estatísticas do judiciário continue a afirmar-se e que seja replicado
em todas as áreas do sistema da justiça para o que é essencial a concretização de uma verdadeira reforma da
justiça.
Um primeiro contributo para se caminhar nesse sentido já foi dado com o consenso alcançado — e com o
alto patrocínio do Presidente da República que, na abertura do ano judicial de 2016, lançou um apelo nesse
sentido — entre a Associação Sindical dos Juízes Portugueses, a Ordem dos Advogados, a Ordem dos
Solicitadores e dos Agentes de Execução, o Sindicato dos Funcionários Judiciais e o Sindicato dos Magistrados
do Ministério Público, que apresentaram, em janeiro passado, os acordos para o sistema da justiça.
Estes acordos, fruto do trabalho de quase um ano e meio, incidem sobre quatro áreas fundamentais — a
organização judiciária, a justiça económica, o acesso ao direito e a criminalidade económica — e propõem um
conjunto de 89 medidas concretas.
O PSD valoriza muito estes acordos, mas, infelizmente, eles não são suficientes para a concretização da tão
desejada, quanto necessária, reforma da justiça.