15 DE JUNHO DE 2018
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que se perceciona o maior espaço de deceção cidadã relativamente à capacidade do Estado para reprimir de
forma igual os fenómenos de crime grave, em particular a denominada «criminalidade económico-financeira».
É aqui que se centra a aparência de um aparelho de justiça desigual. De uma justiça que não terá capacidade
para responder, eficaz e tempestivamente, aos fenómenos corruptivos.
Temos assistido a inúmeros pronunciamentos sobre o que fazer. Um debate sério em torno destas matérias
pressupõe análises fundadas em dados objetivos e um ambiente de serenidade, isento de pré-compreensões,
de receios e apartado de paixões.
O País merece-o.
A luta contra a corrupção não pode convocar apenas o sistema judiciário, ainda que este seja essencial tanto
no plano preventivo como no repressivo.
Um olhar sobre os Estados em que se verificam menores índices de corrupção revela-nos que o antídoto
contra a contaminação por fenómenos corruptivos resulta da combinação de três componentes: transparência,
responsabilização, confiança.
O sistema judiciário cumpre, em primeira linha, a função de responsabilização que induz confiança.
O Sr. Diretor do DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal) afirmou recentemente que não
seria necessária mais legislação. Eu tenderia a concordar que uma leitura atenta dos instrumentos legislativos
disponíveis dispensaria grandes alterações, ainda que possa comportar aperfeiçoamentos.
A intervenção de profissionais, com conhecimento especializado em toda a cadeia do processo, do inquérito
ao julgamento, numa abordagem sistémica e a institucionalização da análise retrospetiva de casos como meio
de apuramento da validade dos métodos podem facilitar a responsabilização dos agentes em tempo útil,
concretizando, assim, a terceira componente do antídoto: a confiança.
O Governo tem-se empenhado ativamente no combate à corrupção em todas as suas dimensões. E fê-lo
reorganizando serviços para melhorar a qualidade, disponibilizando mais e melhor informação aos cidadãos,
determinando a atualização de planos de prevenção de riscos de corrupção, assegurando que a Inspeção-Geral
dos Serviços de Justiça inclui, nos seus planos anuais, ações direcionadas para segmentos de atividade mais
suscetíveis de permeabilidade a fenómenos corruptivos.
Deixo uma última nota sobre o sistema prisional e de reinserção. Apesar de todas as dificuldades, é inegável
o enorme esforço que tem sido feito na definição de uma estratégia de futuro e na melhoria das condições de
vida no interior do sistema.
Sr.as e Srs. Deputados, vou terminar, citando Max Webber: «A política consiste num esforço tenaz e
persistente de furar tábuas duras com paixão e sentido de proporção, ao mesmo tempo».
Estejamos todos à altura de tão nobre tarefa!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Vamos passar à fase de debate propriamente dito.
Em primeiro lugar, estão inscritos dois Srs. Deputados para pedir esclarecimentos ao Sr. Deputado José
Silvano.
Como deseja responder, Sr. Deputado?
O Sr. José Silvano (PSD): — Responderei globalmente, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sendo assim, tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado
Filipe Neto Brandão, do PS.
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, Sr.as e Sr. Secretários de Estado, Sr.
Deputado José Silvano, devo confessar, Sr. Deputado José Silvano, que tinha alguma expectativa relativamente
a este agendamento, a esta interpelação ao Governo, expectativa essa que, penso, terá sido completamente
gorada, na medida em que, tendo o PSD e o seu líder pré-anunciado um conjunto de medidas que iriam
apresentar, a sua intervenção, permita-me a franqueza, não passou de um conjunto de lugares-comuns e, nessa
medida, francamente dececionante.