I SÉRIE — NÚMERO 100
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O primeiro é um problema de verdade, porque os senhores não dizem ao que vêm: chamam-lhe «fontes de
financiamento» quando, na realidade, aquilo que estão a fazer é, pura e simplesmente, a aumentar a tributação
das empresas e dos lucros das empresas. É tão simples quanto isto! Mais valia dizerem: «Vamos aumentar o
IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas) e vamos consignar uma parte da receita do IRC à
segurança social», porque é isso que estão a propor, sobretudo.
Em segundo lugar, a proposta tem também um problema técnico, porque os senhores dizem: «Vamos tributar
o VAL» — e o VAL de que falam não é aquele de que normalmente se fala, não é o valor atual líquido, é uma
coisa chamada «valor acrescentado líquido».
Ora, eu fui à procura do que é, afinal, este valor acrescentado líquido. É lucro? Não se sabe, porque os
senhores falam de uma fórmula que estará prevista no n.º 2 do artigo 3.º ou do artigo 2.º da iniciativa, mas,
depois, a gente consulta-os e a fórmula não existe. Portanto, os senhores nem sequer sabem o que é este valor,
mas convinha que explicassem o que ele é e o que quer dizer.
Na iniciativa, lê-se o seguinte: «A Autoridade Tributária e Aduaneira (…) procede ao apuramento do valor
acrescentado líquido de cada entidade patronal…» — não é de cada empresa, é de cada entidade patronal;
portanto, o valor acrescentado líquido é da entidade patronal — «… e comunica essa informação (…)». Bom,
acho que, para se saber o que é, pelo menos, deviam explicar o que querem tributar.
Em terceiro lugar, a proposta tem um problema sério de realidade, porque o PCP imagina que Portugal está
sozinho no mundo e que o facto de aumentar a tributação das empresas não tem nenhum efeito.
Gostava de terminar fazendo algumas perguntas, sobre as quais acho que vale a pena meditarmos.
Onde é que os trabalhadores vivem melhor, Srs. Deputados?
O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — É na Dinamarca, na Suécia, na Noruega…
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — É nos países que mais tributam as empresas, nos países que têm
economias menos competitivas, ou é nos países onde se tributam menos as empresas e onde as economias
são mais competitivas?
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem mesmo de terminar, rapidamente.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Terminarei, Sr. Presidente.
Onde é que os trabalhadores ganham melhor? É nos países onde mais se tributam as empresas ou é nos
países que mais crescem e que têm economias mais competitivas?
Protestos do Deputado do PS Tiago Barbosa Ribeiro.
O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Com certeza, Sr. Presidente.
Terminarei deixando um desafio ao PCP: olhem bem para a República Checa, onde durante muitos anos se
aplicou a vossa ideologia. Há 20 anos,…
O Sr. Presidente: — Já ultrapassou largamente o tempo de que dispunha, Sr.ª Deputada. Peço-lhe para
terminar.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … o seu PIB (produto interno bruto) per capita era bem inferior ao
português, hoje é superior.
Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente: — Para encerrar o debate, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira, do Grupo
Parlamentar do PCP.