5 DE JULHO DE 2018
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Como se justifica que uma região como o Alentejo, que representa cerca de 1/3 do território nacional, não
tenha um ortopedista no sistema nacional de saúde? Como se justifica a quase inexistência de ginecologistas,
anestesistas e outras especialidades em todo o interior de Portugal?
Desta forma não se cumpre Portugal!
Como se justificam as madrugadas de espera, pelos nossos idosos, para serem atendidos por um médico
de família que nem sempre aparece?
É deste Portugal que falamos. É deste Portugal de gritos abafados que falamos.
Como se justifica encerrar os postos de correios dos CTT em Viana do Alentejo, Alvito, Vidigueira e
Barrancos, onde não existe mais nenhum num raio de 30 km?
Sr.as e Srs. Deputados: Barrancos fica lá bem num cantinho do Portugal profundo!
Qual a solução para que o serviço público de correio seja cumprido, também, para estes portugueses? Estes
são os mesmos portugueses que já perderam a camioneta da carreira, que perderam o balcão da Caixa Geral
de Depósitos, que perderam a escola da sua infância, que perderam o pouco que lá tinham.
Protestos de Deputados do PS.
Não, não estamos a falar do período da bancarrota, nem do período do memorando, nem do período da
troica. Estamos a falar do «agora». Assim, não se cumpre Portugal.
Como se explica que não se utilizem os fundos comunitários previstos e orçamentados para os equipamentos
sociais? Como se explica que não se utilizem os fundos comunitários previstos e orçamentados para as áreas
de acolhimento empresarial, mas também para as infraestruturas científicas e tecnológicas? Por que é que as
verbas dos programas operacionais das regiões de convergência não são aplicadas e têm uma taxa de execução
de zero?
Estas são áreas decisivas para o desenvolvimento do interior. Porque é que não estamos a aproveitar estes
fundos para as regiões mais frágeis? O litoral não tem nada a ganhar com um País assim, com um País tão
desigual, tão desequilibrado. É preciso mudar. É preciso mudar radicalmente e rápido. E preciso recusar a
máxima de Lampedusa de mudar algo para que tudo fique na mesma. É necessário mudar fortemente!
É fundamental concretizarmos um pacto pelo interior. Fazer um pacto pelo interior é um dever. Propostas
tais como as que foram apresentadas pelo Movimento pelo Interior podem ser fundamentais para mudar a
realidade. Matérias como a fiscalidade, a desconcentração de serviços, as infraestruturas no interior, empresas
no interior são decisivas para alterar o paradigma existente. É nisso em que acreditamos!
Ora, isto só se faz com uma agenda, com um calendário bem definido. Com ação! E é nessa perspetiva que
o PSD é coautor deste projeto de lei, que cria a comissão independente para a descentralização, o qual
representa a vontade política de reforçar a necessidade de uma maior legitimidade democrática de órgãos com
maior proximidade aos cidadãos, implicando, designadamente, a reorganização dos serviços desconcentrados
do Estado, garantindo a coerência territorial e alargando a rede de serviços públicos de proximidade.
Assim, através da presente iniciativa, confere-se corpo à constituição desta comissão, que terá mandato até
julho de 2019 e que será composta por seis personalidades e um coordenador de reconhecida competência e
mérito científico, escolhidos e designados pela Assembleia da República. A sua missão consistirá em proceder
a uma profunda avaliação sobre a organização e funções do Estado, devendo igualmente avaliar e propor um
programa de desconcentração da localização de entidades e serviços públicos, assegurando coerência na
presença do Estado no território, avaliando recursos e meios próprios a transferir.
Pretende-se, ainda, assegurar um programa de auscultação e debate com entidades regionais, em particular
as áreas metropolitanas, as CIM (comunidades intermunicipais), as comissões de coordenação, a Associação
Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e a ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias).
Os estudos a apresentar e o programa de auscultação deverão culminar com a apresentação pela comissão
independente para a descentralização, até julho de 2019, de anteprojetos e programas que serão referencial
para iniciativas legislativas subsequentes que se revelarem necessárias.
Acreditamos que esta será uma das vias que poderá ajudar a mudar estruturalmente Portugal. Foi com
responsabilidade e espírito de missão que o PSD se envolveu nesta iniciativa.
Aplausos do PSD.