I SÉRIE — NÚMERO 104
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O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Estes contratos especiais são um buraco negro e são a forma mais
extrema de precariedade. E que proposta faz o Governo sobre isto, por exigência dos patrões? Duas: em
primeiro lugar, aumentar em 60% a duração destes contratos especiais e, em segundo lugar, alargar o seu
âmbito, que hoje é restrito a eventos turísticos e a sazonalidade agrícola, a todos os setores de atividade
económica, repito, a todos os setores de atividade económica.
Sr.as e Srs. Deputados: Olhos nos olhos vos digo que não acredito que os Deputados do Partido Socialista
possam aceitar esta barbaridade.
Se o Governo aceitou esta imposição dos patrões, isso é com o Governo, mas agora é a hora do Parlamento
e o meu apelo aos Deputados do Partido Socialista é claro: juntemos forças para impedir esta forma de
precarização extrema, sejamos fiéis ao nosso compromisso contra a precariedade, sejamos responsáveis no
processo de especialidade.
Uma terceira questão é a do banco de horas. Hoje mesmo será votado um projeto do Bloco de Esquerda
para acabar com o banco de horas individual, que permite impor, sem qualquer mediação coletiva, 50 horas de
trabalho por semana, ou seja, mais tempo sem mais salário, a desorganização da vida pessoal e familiar e a
instabilidade no quotidiano.
A proposta de lei do Governo tem a mesma medida, que hoje aprovaremos — assim o esperamos —, para
acabar com o banco de horas individual, mas soma-lhe outra, como contrapartida oferecida aos patrões: uma
nova figura de banco de horas fora da contratação coletiva.
Não vale a pena ficcionar que este novo banco de horas, através de um plebiscito organizado pelos patrões,
é uma forma de democracia operária.
A Sr.ª Maria das Mercês Borges (PSD): — E a UGT, não conta?!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Costuma estar do lado dos trabalhadores?!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — É tudo menos isso! É uma forma grave de imposição e de violência,
porque, além de ser um banco de horas para contornar a contratação coletiva e a mediação sindical, havendo
apoio maioritário, ele impõe-se imperativamente ao trabalhador, mesmo que esse trabalhador tenha votado
contra, mesmo que esse trabalhador não queira fazer esse horário, mesmo que esse trabalhador se tenha
oposto a essa proposta, mesmo que esse trabalhador ou trabalhadora não possa, até por razões familiares,
fazer esse horário.
Sr.as e Srs. Deputados: Este Parlamento não é a câmara baixa das confederações patronais e nenhum grupo
parlamentar, sublinho, nenhum grupo parlamentar deve ceder a uma chantagem deste tipo.
O compromisso com o percurso feito até aqui confere-nos a responsabilidade, o dever e a obrigação de
garantir a aprovação das medidas que combatem a precariedade e de garantir, em conjunto, o chumbo das
medidas que a estimulam.
Hoje, votaremos vários projetos da esquerda e do Bloco de Esquerda.
Quando propomos ao Parlamento que se eliminem os cortes que a direita introduziu nos dias de férias, o
corte para metade no valor das horas extra, o corte em 60% das indemnizações por despedimento, a que o
Partido Socialista se opôs em 2013, estamos a ser coerentes com a recuperação de rendimentos, e convocamos
o Partido Socialista para essa coerência e para essa responsabilidade.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Quando defendemos regras para combater o abuso no trabalho
temporário e para dar direitos aos trabalhadores em outsourcing, como as trabalhadoras da limpeza desta
Assembleia, que ganham 1,80 € de subsídio de almoço e nem sequer podem almoçar na nossa cantina, porque
são trabalhadoras em outsourcing, o que estamos a fazer é a honrar o nosso compromisso de combate à
precariedade, e convocamos o Partido Socialista para essa responsabilidade e para essa coerência.
Quando defendemos que se impeça a caducidade unilateral das convenções coletivas, que se garanta o
tratamento mais favorável, que se acabe com as normas de amordaçamento dos trabalhadores, como a norma
que impede o trabalhador que recebeu a compensação de contestar a licitude do despedimento, estamos a