13 DE JULHO DE 2018
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O lema da presidência austríaca é «Uma Europa que protege», mas é um lema que está baseado na ideia
de que a suposta crise de refugiados e de migração tem de ter uma resposta dura por parte da União Europeia
e a primeira prioridade desta presidência, e, já agora, a mais empolada, é a segurança das fronteiras e o combate
à migração ilegal.
Importa fazer um paralelo entre as terminologias e as escolhas políticas do documento de apresentação da
presidência austríaca e das conclusões do último Conselho Europeu.
Migração ilegal, centros de migrantes, segurança de fronteiras externas, ameaça, são algumas das palavras
ou expressões mais vezes repetidas, tanto num como noutro dos documentos que referi, de uma maneira
perigosa e que abrem a porta, em definitivo, para se dar de mão beijada tudo o que os países do grupo de
Visegrado, a Itália e a Áustria vinham pedindo até agora: expulsem-se pessoas de território europeu, coloque-
se o problema longe do território, seguindo a máxima de «longe da vista, longe do coração», ou, neste caso,
longe de qualquer responsabilidade política.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr.ª Secretária de Estado, para início da presidência austríaca, as declarações,
notícias e informações que têm sido publicadas sobre as pretensões da Áustria em matéria de migração são
preocupantes e importa esclarecer qual será a posição do Governo português sobre as mesmas.
Foi noticiada ontem a existência de um documento preparatório, que circulou por várias representações
permanentes de Bruxelas, que apontava, e cito, «fragilidades fundamentais» às fronteiras externas da União
Europeia e defendia ações radicais para travar o acesso à Europa de homens provenientes de, e volto a citar,
«regiões caracterizadas por sistemas patriarcais, ideologias hostis à liberdade ou atitudes religiosas
antiquadas».
Gostaria de informar que sociedades patriarcais também são as sociedades europeias, na sua grande
maioria,…
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — … e assistimos, com cada vez mais força, ao recrudescimento daquilo a que
eles chamam «ideologias hostis», também em governos europeus. Portanto, estamos perante terminologias que
não devem ser utilizadas, que repudiamos em absoluto e, de facto, olhe-se para a coligação austríaca que tem
um partido de extrema-direita.
Aplausos do BE.
Portanto, temos o fortalecimento de uma narrativa que utiliza os medos mais comuns de qualquer sociedade,
o medo do outro que é aparentemente diferente, para fazer política em cada país. Já vimos isto acontecer em
épocas históricas e vê-lo novamente, de forma impávida e serena, não é aceitável e achamos que o Governo
português não pode ser complacente com este tipo de posições em nenhum momento formal desta presidência.
Além destas questões no discurso político, no discurso público, há notícias, desde o início da semana, que
dão conta da preparação de um documento que contém a proposta austríaca para os chamados «centros de
migrantes» fora do território da União Europeia. Este documento serviria de base para a reunião informal de
ministros do interior que tem lugar hoje mesmo.
A proposta é que, no caso de decisão final negativa na candidatura à proteção internacional, a pessoa em
questão deve sair da União Europeia e, então, acontece uma de duas coisas: ou é transferida para o seu país
de origem ou para um país terceiro. Neste caso, o país terceiro será responsável pela pessoa, após um acordo
que respeite os standards europeus. Pergunto: o que é que são estes standards europeus, quando nem sequer
países europeus conseguem ter o mínimo de respeito pelos direitos humanos ou pelo direito internacional? Não
se percebe!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!