I SÉRIE — NÚMERO 105
36
do aprofundamento da união económica e monetária, quer seja através da união bancária. Enfim, são um
conjunto de instrumentos que funcionam, na verdade, como um garrote principalmente para os Estados-
membros que, como Portugal, estão numa posição que é originalmente mais desfavorável do que as grandes
potências do centro da União.
Portanto, aí reside uma boa parte das ameaças: o desemprego, o subdesenvolvimento, o subfinanciamento
dos sistemas de saúde e educação, a falta de serviços públicos de qualidade que lançam as populações num
caminho de retrocesso civilizacional. Essa seria, talvez, uma das grandes ameaças.
Ora, a presidência austríaca não só não se propõe defender, salvaguardar ou proteger, nos termos que usa,
desta ameaça como propõe o seu agravamento.
O mesmo se passa com as questões do militarismo e do armamentismo, que vão presidindo cada vez mais
à política da União Europeia, que é, aliás, uma marca deste projeto. E não falo do projeto anunciado e das
palavras vãs dos tratados ou daquelas que sucessivamente são anunciadas como o projeto da União Europeia,
os valores da União Europeia, mas da prática e da realidade que vamos vendo, dia após dia, que contradizem
claramente esse projeto que foi anunciado.
As mentiras que foram vendidas aos portugueses para os convencer da bondade da adesão à então
Comunidade e, depois, à União Europeia são hoje mais do que evidentes, porque não só não se confirmam,
como testemunhamos hoje, no dia a dia, exatamente o seu contrário. Ou seja, a degradação de um conjunto de
indicadores, a degradação da soberania, a maior dependência externa do País, o desemprego, o
subfinanciamento dos serviços públicos.
E, agora, somos confrontados com uma política que até, a pretexto da saída do Reino Unido da União
Europeia, vem cortar ainda mais e diminuir o orçamento comunitário, mas também diminuir, por via do Semestre
Europeu, o financiamento aos serviços públicos através dos orçamentos nacionais.
Tudo isto ao mesmo tempo que esses órgãos decidem o reforço do financiamento para o armamento, para
uma deriva cada vez mais securitária, sempre intimidando com o papão de uma ameaça externa cuja origem é
sempre escondida.
É precisamente esta orientação da União Europeia de destabilizar países fora das suas fronteiras e limitar
os direitos dos seus cidadãos que gera o clima perfeito para que as populações dos outros países tenham de
se deslocar e para que aqui tenhamos medo de as receber.
Portanto, é a política e as opções da União Europeia, bem como o seu funcionamento neoliberal com uma
perspetiva imperialista, que fazem com que a União Europeia gere o problema e dê uma resposta que, ainda
por cima, é errada, no seu território, para resolver o problema para o qual contribuiu.
O alinhamento, agora como braço, com a NATO demonstra bem qual é a opção da União Europeia no que
toca à sua política externa, tendo em conta que se alia à organização que é, provavelmente, a maior responsável
pelos conflitos armados no globo e, portanto, concorre objetivamente para a destabilização de um conjunto de
países, cria a necessidade dessas migrações e, depois, ergue uma fortaleza supostamente para proteger os
cidadãos da União Europeia.
Este é o projeto da União Europeia. O PS e o Governo, provavelmente, acreditarão que há um afastamento
do projeto e que se abandonam, por vezes, valores fundamentais da União Europeia, mas não, Sr.ª Secretária
de Estado, Srs. Deputados, este é o projeto. A prática é o critério da verdade.
Pode dizer-nos que há uma outra intenção escondida que não contempla uma incubadora de partidos de
extrema-direita, como é a União Europeia, que não contempla a destabilização dos outros povos, que não
contempla a externalização de fronteiras, que não contempla o desemprego e a compressão dos direitos sociais
e políticos, culturais e sociais em todos os Estados-membros, mas a prática não se concilia com essa tese
bondosa de uma União Europeia de progresso.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado Miguel Tiago, queira terminar.
O Sr. MiguelTiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, mais integração e o aprofundamento deste
caminho não vão levar a resultados diferentes. Precisamos de escolher outro caminho, porque já vimos onde
vai dar este.
A presidência austríaca está, inclusivamente, muito marcada pela extrema-direita, por força do Governo que
a própria Áustria tem, já um resultado das políticas da União Europeia, e tudo fará, evidentemente, na senda do