19 DE JULHO DE 2018
33
Na história da democracia, nunca houve tantas queixas sobre as cantinas escolares. Disseram-no os
peticionários, disseram-no associações de pais em todo o País, dizem-no crianças e jovens nas escolas, todos
os dias.
Srs. Deputados, quem vê rissóis crus nos pratos das crianças, lesmas vivas na salada e comida mal
confecionada e insuficiente quer estes problemas resolvidos, não quer conversa fiada.
Com 1,28 € por cada refeição, aqui se incluindo todos os custos, sem fiscalização, não se estranha que não
haja qualidade nas cantinas das escolas.
Se quem ama é quem cuida, Srs. Deputados, quem saiba olhar aos factos e aos exemplos só pode chegar
a uma conclusão: os maiores inimigos do sistema público de ensino são os preconceitos ideológicos da esquerda
e a sua incapacidade para assumir responsabilidades.
Quem apoiou este Governo tem de ser chamado à responsabilidade; tinha obrigação de garantir alimentação
de qualidade nas escolas, e falhou.
Srs. Deputados do PS, do Bloco e do PCP, espera-se que cumpram a vossa obrigação. Não queiram tapar
o sol com a peneira!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Carlos
Matias, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O consumo de alimentos produzidos no
local ou na proximidade dos locais onde estes são consumidos tem efeitos extremamente positivos na qualidade
da alimentação, na economia local e na proteção do meio ambiente.
O consumo de alimentos de produção local é também uma forma bastante eficaz de valorização dos produtos
e do rendimento dos pequenos agricultores e um contributo crucial para uma melhor eficiência energética,
dispensando, desde logo, e à cabeça, os enormes custos ambientais que um transporte a longas distâncias
implica e contribui para a preservação do ambiente e para o combate às alterações climáticas.
Para o fomento e promoção desta forma de produção e consumo mais saudáveis e ambientalmente mais
sustentáveis, é essencial a adoção de medidas de acesso a alimentos produzidos localmente para todas as
cantinas públicas da administração central, regional ou local. As próprias diretivas comunitárias aplicáveis
admitem a fixação de critérios e o estabelecimento de processos que facilitem a aquisição local dos produtos
agrícolas e agroalimentares a consumir nesses espaços.
Através da presente iniciativa, o Bloco de Esquerda pretende valorizar, efetivamente, a utilização de produtos
alimentares locais em cantinas públicas, confluindo com projetos de lei nesse sentido, cujo processo legislativo
está em curso, mas que tem enfrentado dificuldades.
Revelam-se necessárias mudanças, Sr.as e Srs. Deputados, nomeadamente no Código dos Contratos
Públicos (CCP), pois, ao contrário de outros países europeus, na mais recente revisão do CCP, o Governo não
aproveitou as possibilidades dadas pelas orientações europeias que, excecionalmente e neste domínio,
permitem um tratamento preferencial pela produção local.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Ao mesmo tempo, esta mudança valoriza métodos de produção biológica, de denominação de origem
protegida, indicação geográfica protegida ou proteção integrada.
Para terminar, quero apenas dizer que o projeto de resolução trazido à Assembleia da República pelo Bloco
de Esquerda aponta para as transformações que se impõem para a saúde de todos, para a promoção da
agricultura de proximidade, essencial ao rendimento de muitas famílias e para o desenvolvimento das regiões.
Aplausos do BE.