I SÉRIE — NÚMERO 1
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O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Concluo, Sr. Presidente, com uma palavra simpática sobre o altruísmo
do Sr. Ministro, pois todas as promessas que faz, pelos vistos, não são para ele inaugurar, serão para outro
Ministro do Planeamento e das Infraestruturas. Portanto, não deixa de ser boa vontade e, por isso, termino com
esta palavra de simpatia.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — E já estamos com a hora certa no relógio do Hemiciclo, para informação da bancada
do CDS.
Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Heitor de Sousa, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Sr. Presidente, esperemos que, em matéria de Programa Nacional de
Investimentos, o Governo seja tão eficaz como a Assembleia da República na correção das horas do relógio do
Hemiciclo.
Sr.as e Srs. Deputados: O Governo tomou a opção — errada, na nossa opinião! — de seguir o essencial do
PETI 3+ que definira para o atual quadro comunitário Portugal 2020.
Já tivemos ocasião de, por mais de uma vez, chamar a atenção para as debilidades estruturais do PETI 3+.
A principal tem a ver com o facto de o transporte público de passageiros estar praticamente ausente das medidas
que compõem o programa Ferrovia 2020. Portanto, espera-se que, para a próxima década, o PNI 2030
(Programa Nacional de Investimentos 2030) corrija o que não se vai fazer no programa Ferrovia 2020.
Porém, as indicações que o PNI Ferrovia nos dá, relativamente à extensão da rede ferroviária que se espera
alcançar no final do Ferrovia 2020, e no futuro, são as de apenas mais 100 km.
Quanto ao futuro da rede ferroviária nacional, não há nem uma linha nesse programa.
Quanto à melhoria a introduzir na rede ferroviária nacional e nos serviços, também não há nada!
Há, por isso, uma espécie de buraco negro sobre o futuro da rede ferroviária nacional que importa corrigir.
Em particular, Sr. Ministro, pergunto: vai haver uma recuperação da extensão média da rede ferroviária
nacional, colocando-a, por exemplo, na média europeia? Vai corrigir-se, por exemplo, a inexistência de
acessibilidade ao transporte ferroviário em várias capitais de distrito do continente português?
Nota-se que, com o atual Ferrovia 2020, as linhas que antes existiam e que ligavam às capitais de distrito no
continente são agora linhas muito ténues que deixaram de estar em exploração e que, em alguns casos, já não
existem.
Ora, na comparação entre os valores de referência das redes rodoviárias e ferroviárias nacionais e os valores
de referência nos restantes países da União Europeia — a 26 —, observa-se que, na rodovia, Portugal ocupa o
3.º lugar, em termos de extensão e de qualidade da mesma, ao passo que, na ferrovia, o País está no 16.º lugar,
ou seja, situa-se na metade inferior da tabela.
Se fôssemos fazer esta comparação não com a infraestrutura mas com os serviços, integraríamos,
certamente, o «carro-vassoura» da qualidade da oferta, em termos de serviços públicos de transporte ferroviário.
Por isso, dois tipos de questões se impõem nesta matéria.
Primeiro: vai o Governo corrigir a inexistência de um plano ferroviário nacional, que esta Assembleia
recomendou ao Governo que apresentasse aqui até ao final do ano anterior, isto é, até 2017?! Mesmo com
atraso, vai o Governo incluir no tema «transportes e mobilidade 2030» a aprovação de um plano ferroviário
nacional?!
Segundo: vai o Governo, atempadamente, aprovar os planos de investimento em material circulante que
permitam à CP não apenas passar a oferecer o que está definido nos horários mas também dotá-la dos meios
indispensáveis, em recursos materiais e humanos, para aumentar a oferta de transporte ferroviário com
qualidade, quer nos serviços urbanos e regionais, quer no serviço de longo curso, nacional e internacional? Acha
o Governo aceitável que a oferta dos serviços Alfa fique, a prazo, dependente do que a Renfe nos quiser alugar,
não permitindo à CP uma oferta autónoma e de qualidade para enfrentar os desafios futuros da liberalização
imposta ao transporte ferroviário por parte da Comissão Europeia?!