I SÉRIE — NÚMERO 9
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Este projeto só foi aprovado porque a APA deu parecer positivo ao estudo de impacte ambiental. Mas será
que a APA leu mesmo o relatório todo? Na página 91 e seguintes podemos ler, e passo a citar, que se trata
«(…) de uma intervenção num sistema natural sobre o qual ainda dispomos de informação limitada e
insuficiente», que seria valioso dispor de mais informação sobre a fauna que aí reside, que se desconhecem as
dragas que serão utilizadas pelo empreiteiro, que não se dispõe dos dados exatos sobre os níveis de ruído que
serão gerados e que não se pode prever com rigor que tipo de alterações comportamentais se irão produzir nos
golfinhos.
A «cereja no topo do bolo», Sr. Primeiro-Ministro, essa, encontramo-la na conclusão, quando o relatório
refere que, não obstante o projeto acarretar impactes ambientais negativos, representa um cenário económico
muito vantajoso. Cá está! Sempre o dinheiro!
Sr. Primeiro-Ministro, o desenvolvimento do País não pode ser feito por tecnocratas, a qualquer custo.
Dir-me-á que esta é uma questão técnica e não política, mas a partir do momento em que estas dragagens
não estão devidamente sustentadas em estudos confiáveis, em que o estudo de impacte ambiental está,
claramente, enviesado, e, mais grave, a APA aprovou-o, passa a ser um tema e um problema não técnico mas,
sim, político.
Quando a administração do Estado falha, o Governo tem de intervir e o que lhe pedimos hoje, Sr. Primeiro-
Ministro, é que suspenda este projeto que não tem sustentação científica e que teve uma aprovação da APA,
no mínimo, duvidosa.
Pedimos-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, em nome da transparência e do bem comum, que o Governo mande fazer
um estudo de impacte ambiental alternativo, credível e que emita um parecer isento baseado em factos
realmente científicos.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado André Silva, primeiro: foi feito um estudo de impacte
ambiental. Esse estudo de impacte ambiental previa quais eram os riscos e recomendava medidas de mitigação.
A Agência Portuguesa do Ambiente, que é a entidade do Estado português habilitada tecnicamente para se
pronunciar sobre esta matéria, perante o estudo de impacte ambiental, aprovou este projeto, fixando um conjunto
de medidas de mitigação. O Governo não se pode substituir, em função da sua opinião, relativamente àqueles
que são os critérios técnicos da APA e, concordando ou não concordando, porque não temos de avaliar, temos
de respeitar a avaliação técnica da APA.
Portanto, o que aprovámos e o que está a ser executado é a empreitada com as medidas de mitigação
impostas pela APA, porque são estas as regras que temos de cumprir. Agora, o Sr. Deputado achava bem que,
se a APA tivesse dado um parecer negativo, o Governo se substituísse à APA e prosseguisse contra a sua
opinião?! Ora, nós não nos substituímos nem quando há um parecer negativo, nem quando há um parecer
positivo. Respeitamos a APA, porque devemos respeitar a opinião técnica de quem está no Estado português
habilitado a dar essa opinião técnica.
Aplausos do PS.
O Sr. André Silva (PAN): — E se ela estiver a falhar?!
O Sr. Presidente: — Também para formular perguntas, em nome do Grupo Parlamentar do PS, tem a palavra
o Sr. Deputado João Torres.
O Sr. João Torres (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, dirijo-lhe hoje, em nome do Grupo
Parlamentar do Partido Socialista, duas questões sobre duas matérias de grande relevância para o Governo,
para a Assembleia da República mas, fundamentalmente, para as portuguesas e os portugueses.
Permita-me que comece pela temática da descentralização, que é, para o Partido Socialista, a pedra angular
de uma verdadeira reforma do Estado.
Encontram-se já aprovados 16 decretos-lei setoriais para operacionalizar aquela que pode e deve ser uma
das mais profundas alterações de paradigma à forma como o País gere os seus recursos, aproximando os