18 DE OUTUBRO DE 2018
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A desonestidade intelectual do Governo é bem evidente quando justifica o agravamento de impostos para
promover a educação ambiental, mas neste caso já não aplica o mecanismo de desagravamento.
A petição desmascara a estratégia do Governo, que consiste em tornar os veículos como o motor da
consolidação orçamental.
Os portugueses estão cercados de impostos! Todo o património das pessoas e das empresas está ameaçado
pela criatividade tributária do PS, do PCP e do Bloco de Esquerda,…
O Sr. Adão Silva (PSD): — Bem dito!
O Sr. Cristóvão Crespo (PSD): — … seja o património móvel ou imóvel, de uso pessoal ou empresarial,
mais modesto ou mais sumptuoso.
Desde o modesto «papa reformas» ao último e sofisticado grito da tecnologia automóvel, tem de suportar o
imposto sobre os veículos agravado, o imposto único de circulação com o respetivo adicional, o adicional do
imposto sobre os produtos petrolíferos e o IVA sobre o ISV (imposto sobre veículos) e o ISP (imposto sobre os
produtos petrolíferos e energéticos), também com os adicionais.
Segundo o Orçamento do Estado para o próximo ano, caso a viatura seja detida por uma empresa, ainda vai
suportar um agravamento de 50% de tributação autónoma, em relação ao ano passado.
Relembrando o cardápio temos: IUC (imposto único de circulação) e respetivo adicional; ISP e respetivo
adicional; ISV de importados — desprezo da componente ambiental; IVA sobre todos os impostos e adicionais;
e culmina com agravamento de tributação autónoma em IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas
coletivas).
Uma mão-cheia de impostos para sacar o máximo ao contribuinte!
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, pelo PCP, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno
Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, eu não resisto a fazer uma observação: o Sr. Deputado Cristóvão
Crespo deve ter andado a pé até este ano e só este ano é que começou a andar de carro, porque só agora é
que descobriu todos estes impostos. Parece que isto tudo só apareceu agora!
Risos de Deputados do PCP e do PS.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Queria expressar a nossa saudação e consideração a todos os cidadãos
subscritores desta petição que se dirigiram a esta Assembleia colocando a questão da fiscalidade que é aplicada
aos veículos automóveis. Certamente que esta é uma discussão que deve prosseguir e o PCP continuará
disponível para o debate de uma forma construtiva e séria com um aspeto que importa, entretanto, sublinhar: a
questão da justiça social que está subjacente.
Permitam-me aqui recordar o artigo 104.º, n.º 4, da Constituição da República: «A tributação do consumo
visa adaptar a estrutura de consumo à evolução das necessidades do desenvolvimento económico e da justiça
social, devendo onerar os consumos de luxo».
Ora, nós sabemos que esta situação não afeta os segmentos automóvel todos por igual e não podemos
ignorar que há uma situação de desigualdade profunda em que as camadas da população com menos poder de
compra continuam a ter muito mais dificuldades nesta matéria — aliás, basta ver as estatísticas das vendas no
setor automóvel nos últimos anos e ter em conta o impacto e o peso relativo do setor rent-a-car nessas vendas.
Reafirmamos a nossa perspetiva de que a justiça social e as condições de vida concretas das pessoas não
podem ser esquecidas no meio dos debates sobre a transição energética, a descarbonização da sociedade,
etc., etc., etc.
De resto, alguém que pense em objetivos ambientais mantendo a falta de transporte coletivo, gravíssima,
que existe em Portugal não está a enfrentar o problema central.