I SÉRIE — NÚMERO 17
20
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Todos conheceremos a gravidade do crime de violência doméstica na
sociedade portuguesa e a necessidade de encontrar boas soluções a todos os níveis — a nível político e a nível
legislativo — para fazer face a este grave problema. Só que uma boa causa pede boas soluções e hoje,
manifestamente, não estamos aqui a debater boas soluções que nos sejam propostas. Isto não pode deixar de
ser dito. Diria até que aquilo que nos é proposto não só não são boas soluções como, do nosso ponto de vista,
nem sequer são soluções.
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Vejamos, então, mais em pormenor.
Há um projeto de lei que é manifestamente inconstitucional, que é o da existência de juízos especiais para o
julgamento de um determinado crime. Ora, a Constituição proíbe frontalmente esta possibilidade. E não estamos
a falar de especialização, porque a Constituição não impede que haja especialização em matéria cível, em
matérias não criminais. O que a Constituição proíbe expressamente é a criação de tribunais para o julgamento
de determinadas categorias de crimes. Ora, é exatamente isto que aqui está, com todas as letras, mas os crimes
de violência doméstica têm de ser julgados pelos tribunais criminais, como acontece com os outros crimes.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Constitucionalmente, não pode haver tribunais para o julgamento de certas
categorias de crimes. Creio que isto é inequívoco e que, quanto a isto, em face do texto constitucional, não há
duas opiniões.
Depois, temos aqui a questão do aumento das penas e das limitações legais à possibilidade de prisão
preventiva e de suspensão provisória do processo. E, neste domínio, também importa dizer que creio que estas
propostas, vindas de onde vêm, são surpreendentes. É que, desculpar-me-ão, mas estas são soluções típicas
da direita.
Risos do PSD e do PS.
Já discutimos isso aqui, muitas vezes, com o CDS, particularmente com o CDS — e vamos estabelecer,
relativamente ao PSD, algumas atenuantes,…
A Sr.ª Ângela Guerra (PSD): — Ah!
O Sr. António Filipe (PCP): — … porque, de facto, o CDS é que tem sido o campeão de, ao longo dos anos,
entender que o problema da criminalidade se resolve com o aumento das penas.
Vozes do PS: — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Discutimos isso relativamente a outro tipo de crimes, designadamente em
relação à criminalidade violenta. Sistematicamente, quando havia notícias de crimes violentos que moviam mais
a opinião pública, lá aparecia o CDS com aumentos de penas.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Não só mas também!
O Sr. António Filipe (PCP): — É isto que se propõe aqui, hoje, para a violência doméstica. Ora, todos
sabemos que a experiência, e não só a recente mas a experiência histórica do direito penal, em qualquer parte
do mundo, demonstra que não é pelo simples agravamento de penas que se diminui a criminalidade, porque,