I SÉRIE — NÚMERO 29
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Uma linha nova, que há 100 anos não se construía neste País, onde vai ser feita? É no Alentejo, Sr.
Deputado!
O Sr. João Dias (PCP): — Outra vez?!
O Sr. Ministro do Planeamento e das Infraestruturas: — O Sr. Deputado sabe — e eu já aqui o disse —
que o Programa Nacional de Investimentos 2030 vai ser discutido com todos os partidos com assento
parlamentar.
Já referi, noutras circunstâncias, que todo o Alentejo deve ter oportunidade de aceder ao desenvolvimento e
isso significa que o Baixo Alentejo e que o Alto Alentejo devem ter as mesmas oportunidades que o Alentejo
central ou o Litoral Alentejano.
Fomos nós, Sr. Deputado, foi este Governo que anunciou que vai começar o projeto de eletrificação da linha
ferroviária até Beja, que será um projeto muito importante também para potenciar o Aeroporto de Beja, como
sabe.
Sabe que vamos discutir aqui o Programa Nacional de Investimentos da próxima década, mas temos um
objetivo claro: todo o Alentejo tem de ter as mesmas oportunidades dos territórios mais desenvolvidos daquela
região, Sr. Deputado.
E é outra vez a ferrovia, é outra vez o investimento público que fará a diferença! Essa é a nossa visão.
Temos condições, agora: pusemos as contas públicas em ordem, mobilizámos os fundos comunitários,
fizemos os projetos de execução, lançámos os concursos públicos! Estamos a executar o maior programa de
investimento ferroviário das últimas décadas neste País, que é o Ferrovia 2020, que deixará uma marca de
aposta na ferrovia para muitos anos, em Portugal.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, passamos agora às intervenções, a primeira
das quais cabe ao Bloco de Esquerda. Tem a palavra o Sr. Deputado Heitor de Sousa.
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: O Grupo
Parlamentar do CDS-PP chamou hoje a debate o investimento público em infraestruturas, tema demasiado
vasto, pelo que o debate acabou por se concentrar no investimento em infraestruturas de transportes.
Neste âmbito, todos sabemos que as decisões que têm consequência para a vida das pessoas, das
empresas e do Estado são decisões cujo alcance se faz sentir de forma mais significativa, quase sempre, no
médio e no longo prazo.
Quando o CDS decidiu fazer esta interpelação, estava certamente a contar com o hipotético apagão mental
dos portugueses e das portuguesas sobre todas as escolhas erradas que o anterior Governo decidiu fazer em
matéria de política de transportes e infraestruturas.
Por exemplo, uma das primeiras decisões do anterior Governo foi, no Orçamento do Estado para 2012, fazer
um aumento brutal do preço dos transportes, o que, em média, representou um acréscimo de mais 26%, mas,
na maior parte dos títulos e passes, equivaleu a aumentos que atingiram em alguns casos mais de 100%. Esta
decisão teve consequências graves, cujos resultados mais visíveis foram: uma redução brutal da procura de
transportes públicos, um aumento exponencial da circulação de veículos privados, mais congestionamentos no
trânsito e uma grave redução da produtividade social, por acrescida perda de tempo nos transportes coletivos;
e um aumento exponencial da fraude nos transportes públicos, não porque a direita tenha retomado a justa
reivindicação dos estudantes universitários do «Não pagamos!», mas porque, como deixou de se investir nos
transportes públicos, não havia forma de assegurar uma fiscalização efetiva nos transportes.
Claro que a culpa era sempre atirada para cima das «gorduras» do Estado ou da má gestão em que o setor
público está «condenado» a cair e que, concomitantemente, eram feitos os indispensáveis louvores ao setor
privado.
Daqui à defesa da privatização de tudo o que mexia no setor era apenas um passo, e foi isso mesmo que se
tentou que acontecesse. Não o conseguiram porque os portugueses e as portuguesas derrotaram esses
intentos, quando tiveram oportunidade de se pronunciar em eleições.