21 DE DEZEMBRO DE 2018
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Hoje, em grande parte graças ao Canal Parlamento, os portugueses sabem bem que o trabalho dos
Deputados não se limita a duas tardes e uma manhã de Plenário. Sabem que, embora muito importante e
mediática, essa é apenas uma pequena parte da nossa função.
Hoje, em grande parte graças ao Canal Parlamento, os portugueses podem assistir em direto ao trabalho
que os Deputados fazem nas diversas comissões, fiscalizando o Executivo, questionando ministros, secretários
de Estado e órgãos da Administração Pública, ouvindo personalidades, especialistas, instituições, perguntando,
inquirindo, apurando factos.
Hoje, em grande parte graças ao Canal Parlamento, os portugueses de norte a sul do País, os portugueses
das ilhas e os portugueses da diáspora sabem bem o que os seus Deputados estão a discutir e a debater a cada
momento, conhecem os seus pontos de vista sobre os diferentes temas, confrontando os seus argumentos na
feitura das leis.
Hoje, em grande parte graças ao Canal Parlamento, temos cidadãos mais informados, mais participativos e
mais atentos sobre o que acontece dentro destas quatro paredes.
Mas o Canal Parlamento é muito mais do que o canal de televisão da Assembleia da República. O Canal
Parlamento é a prova viva de que, quando se trata de defender ideais e de defender a instituição parlamentar,
é possível aos partidos, a todos os partidos, unirem-se em torno de um objetivo maior: combater pela liberdade
e pela democracia.
Só assim foi possível ultrapassar as divergências que naturalmente existiam entre nós relativamente a esse
projeto inovador, nesse momento histórico, com este alcance e esta magnitude. Só assim foi possível encontrar
pontos de contacto, valorizar os denominadores comuns e chegar a um compromisso em torno de uma ideia
para o Canal Parlamento, sobre os seus princípios, a sua missão, a sua estrutura, a sua forma de funcionamento.
Só assim foi possível criar de raiz este poderoso instrumento de comunicação ao serviço do País, dos
portugueses, da democracia e do direito à informação e à transparência.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Este é para mim, portanto, um tempo de despedida. Não foi uma decisão
fácil. Afinal, foram duas mãos bem cheias de anos ao serviço da causa pública, neste lugar central da nossa
democracia, onde temos o grande privilégio e a imensa responsabilidade de podermos mudar para melhor a
vida concreta das pessoas.
Saio com algum, repito, algum sentimento de dever cumprido. Mas saio, sobretudo, com a certeza de que
nunca fazemos demais nem o suficiente pelos nossos concidadãos e que somos sempre devedores da sua
confiança, da sua gratidão, uma gratidão que estendo a todos os funcionários parlamentares que, ao longo dos
anos, tive oportunidade de conhecer e com quem tive a honra de conviver. São profissionais dedicados,
competentes, disponíveis. A todos os funcionários de todos os serviços que diariamente dão o melhor de si à
Assembleia da República e ao País, deixo a minha palavra de profundo respeito e agradecimento.
Concluindo, saio com a convicção de que dei, pelo menos, duas alegrias a esta Casa: a primeira dessas
alegrias foi quando aqui cheguei. A maior parte das Sr.as e dos Srs. Deputados com quem partilhei esses
momentos únicos já cá não estão e, por isso, não o podem confirmar.
Já a segunda alegria, que pode ser partilhada por alguns, ou até por muitos dos que aqui estão hoje é a
alegria de me verem partir. Até porque quem procura agradar a todos não agrada a ninguém. É a vida! É mesmo
assim!
Aqui chegados, despeço-me não com uma graça, como alguns dos Srs. Deputados provavelmente
esperariam, mas com um poema, um poema desse vulto maior da literatura portuguesa, Miguel Torga. Falo da
Viagem: «É o vento que me leva/ O vento lusitano./É este sopro humano/ Universal/ Que enfuna a inquietação
de Portugal./ É esta fúria de loucura mansa/ Que tudo alcança/ Sem alcançar./ Que vai de céu em céu,/ De mar
em mar,/ Até nunca chegar./ E é esta tentação de me encontrar/ Mais rico de amargura/ Nas pausas da ventura/
De me procurar…»
Vou continuar a ver-vos no Canal Parlamento. Até já! E um Bom Natal a todos!
Aplausos do PSD e do CDS, de pé, do PS, com Deputados de pé, e dos Deputados do PCP António Filipe e
de Os Verdes José Luís Ferreira.
O Sr. Presidente: — Obrigado, Sr. Deputado.