I SÉRIE — NÚMERO 31
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A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — O PS não assumia! Chumbou a nossa proposta duas vezes!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Ainda bem que agora, sem maioria absoluta da direita, sem maioria
absoluta do Partido Socialista, foi possível resolver o problema dos bailarinos.
Gostava ainda de dizer que, mais do que um consenso entre os partidos, foi possível fazer este trabalho por
causa da luta dos bailarinos e das bailarinas.
Foram os bailarinos e as bailarinas que fizeram ao longo de anos — aliás, de décadas! — petições a este
Parlamento; que vieram inúmeras vezes aqui, à Assembleia da República; que pediram para serem ouvidos na
Comissão de Trabalho e Segurança Social, na Comissão de Cultura; que fizeram relatórios; que nos entregaram
documentos sobre as suas condições de trabalho, sobre a penosidade do seu trabalho, sobre as suas doenças
profissionais; que pediram reuniões; que ocuparam as galerias tantas vezes aqui, no Parlamento, ao longo de
legislaturas, umas atrás das outras.
Portanto, Sr.as Deputadas do Partido Comunista e do CDS-PP permitam-me que, neste momento, saúde a
vitória dos bailarinos e das bailarinas e lhes dê os parabéns pela luta que travaram, porque é um exemplo para
eles e também para outros trabalhadores.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, ao abrigo do n.º 2 do artigo 76.º do Regimento da Assembleia da
República, o Sr. Deputado Luís Campos Ferreira, do PSD, para uma declaração política individual.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Campos Ferreira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Tomei a decisão de renunciar
ao mandato de Deputado e, assim, deixar o Parlamento português. Faço-o de uma forma muito refletida, muito
consciente e muito livre.
A par da responsabilidade, a liberdade é uma condição essencial do exercício do cargo de Deputado, e isso
inclui, necessariamente, a liberdade de lhe colocar um ponto final.
É o que faço agora. Sei que o faço num momento delicado, para não dizer mesmo complicado, numa altura
em que, dentro e fora do Parlamento, se discute muito a necessidade de mais e mais transparência no exercício
de cargos públicos.
Há, decerto, muito a fazer neste domínio, ninguém o pode negar, até porque não existe essa coisa chamada
«transparência a mais». O contrário da transparência a mais é transparência a menos, e isso chama-se
opacidade.
Nestes últimos 44 anos, os portugueses já aprenderam que opacidade não rima com democracia. Mas não
posso deixar de dizer que a transparência e o escrutínio que existem hoje, em finais de 2018, são
incomparavelmente maiores e mais efetivos do que eram quando aqui cheguei, pela primeira vez, em 2002.
Mérito, sem dúvida, da nossa democracia e da nossa sociedade, que evoluíram muito nesse sentido ao longo
destas quase duas décadas. Mas mérito também dos próprios Deputados e Deputadas, que não se colocaram
à margem ou acima dessa exigência de escrutínio, avançando eles próprios com novos instrumentos e novas
práticas para levar cada vez mais longe esse imperativo democrático da transparência.
Não me vou alongar em exemplos. Dou apenas um de que muito me orgulho ter contribuído para a sua
implementação, juntamente com dois colegas aqui presentes, o Sr. Deputado António Filipe e o Sr. Deputado
José Magalhães. Falo do lançamento e da implementação do Canal Parlamento.
O Canal Parlamento foi desde o seu início e será sempre, creio eu, uma enorme porta aberta à sociedade
portuguesa, algo de que a nossa democracia se pode e deve sinceramente orgulhar. É uma porta aberta aos
jornalistas, a quem devemos uma cobertura dos trabalhos parlamentares isenta, livre e informada, e uma porta
aberta aos cidadãos, a quem devemos o dever constante de prestação de contas.
Se é verdade, e é, que temos telhados de vidro, e temos mesmo — basta olhar para esta monumental
claraboia sobre as nossas cabeças —, também temos paredes de vidro e uma dessas paredes é justamente o
Canal Parlamento.