10 DE JANEIRO DE 2019
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autorizada de fonogramas e videogramas que foi discutida aqui, nessa altura, era uma discussão que nos trazia
algumas dúvidas.
Nessa altura, dissemos que o Governo pedia um cheque em branco a esta Câmara para legislar sobre o
assunto e que tínhamos muitas dificuldades em passar cheques em branco a este Governo.
Relembro as palavras, então, do Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, que dizia, com ar levemente indignado,
repudiando a nossa recusa em passar cheques em branco ao Governo, que, e cito, «o cheque vinha
praticamente todo preenchido». Lembra-se, Sr. Deputado Pedro Delgado Alves?!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ora, ora!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Pois era! Afinal, o cheque vinha mesmo em branco, como dizia o
CDS, na altura, e o Governo admite isso mesmo, porque deixou caducar a autorização legislativa por, cito outra
vez, «nos terem sido suscitadas algumas dúvidas que justificam uma abordagem distinta, de forma a evitar que
se descriminalizem quaisquer utilizações primárias e assim descriminalizar apenas e só as utilizações
secundárias».
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Ou seja, não pensaram nisso!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Portanto, os senhores vieram pedir uma autorização legislativa a
esta Câmara, sem saberem muito bem o que queriam, não fizeram nada com essa autorização legislativa,
repudiaram as acusações do CDS, de que isto era feito em cima do joelho e de que não passávamos cheques
em branco, e agora, afinal, vêm dar-nos toda a razão. Agora, ficamos outra vez sem perceber qual é o móbil do
Governo e o que pretende. É que, para além disso, Sr.ª Ministra, Sr.as e Srs. Deputados, e também o dissemos
na altura, mas repito-o agora, esta alteração implicava que a IGAC, que é quem vai fiscalizar tudo isto, tivesse
meios, mas a IGAC não os tinha, à época, não os tem, agora, e não os vai ter, no futuro, porque, com o
Orçamento do Estado que aprovámos, há muito pouco tempo, nesta Câmara — nós, não, mas a maioria
aprovou-o —, não foram dados mais meios à IGAC para estas competências.
Sabendo que esta é uma matéria delicada e que carece, obviamente, de fiscalização, porque, se não,
teremos um problema maior entre mãos, é evidente que isto não pode passar incólume, Sr.ª Ministra.
Por isso, se não há reforço de meios da IGAC nem se prevê que venha a existir brevemente, esta é uma
solução coxa, que permitirá toda a sorte de abusos e que o CDS, obviamente, se recusa a acompanhar.
Portanto, Sr.ª Ministra, o que lhe pedimos é que pondere bem esta estratégia e veja bem o que quer fazer
nesta matéria.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que o CDS está disponível para
discutir o assunto, mas não está disponível para que isto se faça sem meios e de uma forma coxa, o que pode
prejudicar aquilo que, afinal, se quer beneficiar.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António
Filipe, do PCP.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Cultura, Sr. Secretário de Estado e Srs.
Deputados: Vamos por partes. Esta iniciativa legislativa tem duas componentes, aliás, tem três, mas diria que
há duas que merecem a nossa especial atenção, uma das quais diz respeito aos cidadãos com deficiência, aos
cegos ou pessoas com dificuldades visuais, no que respeita ao acesso a textos impressos. É óbvio que o PCP
se tem batido pela remoção dos obstáculos que impendem sobre essas pessoas e, portanto, obviamente,
saudamos de forma positiva e apoiamos quaisquer medidas no sentido de facilitar o acesso dos cegos a esses
livros ou a outros materiais. Quer-nos parecer que esta parte é absolutamente consensual.