11 DE JANEIRO DE 2019
27
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Vivemos, como sabemos, num espaço europeu, numa economia aberta,
onde se compete pela captação de capitais. Ou esse investimento é captado para Portugal ou, sendo suprimido,
como propõe o Bloco, apenas ajudará a crescer outros países concorrentes connosco na atração de capital.
Protestos do Deputado do BE José Manuel Pureza.
E não é preciso procurá-los longe! Para terem uma noção do que falamos, Sr.as e Srs. Deputados, os 4000
milhões, como foi referido, advieram de perto de 6000 autorizações, desde 2012. Ora, nesse período, aqui ao
lado, Espanha concedeu o correspondente a 25 000 milhões de euros, ou seja, Espanha concede a cada ano
aquilo que Portugal concedeu num total acumulado de seis anos.
Suprimir ou revogar a possibilidade de autorizações de residência teria apenas como única e previsível
consequência transferir o investimento hoje feito em Portugal para outras economias, nomeadamente para
Espanha, sem nenhum benefício para Portugal. Isso, Srs. Deputados, seria irrazoável e absurdo!
Podemos aprimorar os regimes de autorização de residência para investimento, aliás, muito recentemente,
aquando da discussão do Orçamento do Estado, também o Bloco de Esquerda aprovou uma proposta do Partido
Socialista para fomentar o cruzamento de dados entre o SEF e a Autoridade Tributária relativamente aos países
de origem dos requerentes destes vistos.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Vistos para ricos!
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Podemos, como também faz o PAN, alargar o âmbito do investimento
relevante para a concessão das autorizações de residência, no caso, promovendo políticas públicas
conducentes a uma aceleração da descarbonização da economia. O que não faria sentido…
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Concluo, Sr. Presidente.
Como estava a dizer, o que não faria sentido era, neste contexto, abdicarmos de um instrumento que permite
essa aplicação.
Termino, frisando que isto em nada colide, e o Sr. Deputado José Manuel Pureza sabe, com o acolhimento
dos imigrantes que não beneficiam deste regime, no que Portugal é, aliás, um exemplo reconhecido de boas
práticas internacionais e onde, muito recentemente, se aprovaram medidas, algumas propostas pelo Bloco de
Esquerda, que reforçaram os direitos daqueles.
Portanto, Sr.as e Srs. Deputados, obviamente, não poderemos acompanhar o projeto do Bloco de Esquerda.
Aplausos do PS.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Oh! A sério?!
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Passamos ao Grupo Parlamentar do PCP e tem a palavra o
Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PCP votará favoravelmente a
extinção dos vistos gold e não apoiará a criação de vistos da mesma natureza, embora tenham uma cor diversa
ou se proponham apresentar uma cor diversa. E não o fazemos na base de processos de intenções, fazemo-lo
tendo em conta a imoral dualidade de critérios que representa a existência na nossa lei dos chamados «vistos
gold» e, ao mesmo tempo, as dificuldades que têm sido opostas à regularização de cidadãos que trabalham em
Portugal, procurando ter condições mínimas de subsistência para si e para os seus familiares e que se deparam
com as maiores complicações para a sua legalização.
A nossa questão não é a de pressupor que alguém que tenha 500 000 € para comprar um apartamento seja
necessariamente um criminoso. Não é essa a ideia que nos move. Não há aqui nenhuma presunção de
delinquência ou de criminalidade pelo facto de se ter muito dinheiro. A questão, para nós, é a de que a