11 DE JANEIRO DE 2019
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O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O debate que travámos há poucos minutos
sobre os vistos gold incidiu sobre uma das faces da política de imigração que tem sido dominante em Portugal.
Quem for rico e tiver meio milhão de euros para gastar por cá pode comprar um visto e obter autorização de
residência. Mas há uma outra face: quem for pobre, não tenha outro meio de subsistência que não seja o seu
trabalho e tenha entrado em Portugal de forma irregular fica condenado à ilegalidade, a menos que, de forma
discricionária e excecional, lhe venha a ser concedida autorização de residência.
Esta dualidade de critérios não é aceitável, mas o problema não reside só nessa dualidade de critérios.
A política de imigração do Estado português e a legislação que a suporta deve ser justa, deve respeitar
direitos humanos fundamentais, deve vir ao encontro dos reais interesses da comunidade nacional e deve
respeitar a dignidade da pessoa humana.
Como é amplamente reconhecido, permanecem em Portugal muitos cidadãos não nacionais que trabalham
honestamente, que procuram entre nós as condições de sobrevivência que não têm nos seus países de origem
e que vivem no nosso País, alguns deles há muitos anos, em situação irregular, com todo o cortejo de
dificuldades que essa situação implica quanto à sua integração social.
Se a imigração é um bem indiscutível para a comunidade nacional, já a ilegalidade a que muitos cidadãos
estrangeiros estão condenados constitui um verdadeiro flagelo social a que urge pôr cobro, através de um
combate sem tréguas às redes de tráfico de pessoas, mas também através de uma política que, em vez de
penalizar as vítimas, permita a sua justa integração social com todos os direitos e deveres que lhe são inerentes.
Para o PCP, a solução para a regularização dos cidadãos indocumentados não passa pela reabertura de
processos extraordinários de regularização, como os que foram feitos no passado, a título excecional e
transitório, e com resultados positivos, mas muito limitados. E não passa, tão-pouco, por mecanismos
excecionais e discricionários de regularização como os que a lei já prevê.
A situação dos cidadãos indocumentados em Portugal constitui uma flagrante violação de direitos
fundamentais que não pode ser ignorada. Permanecem em Portugal milhares de cidadãos estrangeiros que
procuraram o nosso País em busca de condições de sobrevivência e que trabalham em diversos setores da
atividade económica sem quaisquer direitos, em alguns casos mesmo sem direito ao salário, beneficiando
pessoas sem escrúpulos que lucram com a chantagem que a situação irregular desses trabalhadores possibilita.
A integração social plena dos cidadãos estrangeiros que se encontram a residir e a trabalhar em Portugal é
uma obrigação indeclinável do Estado português. Só por essa via será possível pôr fim à sobre-exploração a
que esses trabalhadores são sujeitos e respeitar os seus direitos fundamentais.
Os ventos de racismo e xenofobia que sopram por esse mundo fora não se combatem com medidas de
afastamento ou de exclusão social dos imigrantes, capitulando perante inaceitáveis pressões racistas e
xenófobas. Combatem-se, precisamente, com a integração social, tratando todos os cidadãos com a dignidade
a que, como seres humanos, têm direito.
O PCP propõe assim, através do presente projeto de lei, que os cidadãos estrangeiros que se encontrem a
residir em Portugal sem a autorização legalmente necessária possam obter a sua legalização, desde que
disponham de meios de subsistência, através do exercício de uma atividade profissional, ou, em qualquer caso,
desde que vivam permanentemente em Portugal desde momento anterior à última revisão da lei de imigração
que teve lugar em junho de 2015.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Vou terminar de imediato, Sr. Presidente.
Propõe-se, de igual modo, a adoção de processos de decisão dotados de transparência, correção e rigor, a
concessão de autorização provisória de residência aos cidadãos estrangeiros que, tendo requerido a sua
regularização, aguardem decisão final, a aplicação extensiva da regularização ao agregado familiar dos
requerentes e a adoção de mecanismos de fiscalização democrática e participada dos processos de decisão.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza, do Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda.