I SÉRIE — NÚMERO 39
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dos estudantes bolseiros, o que, conjugado com uma política de propinas agressiva, os deixou sem qualquer
hipótese de prosseguir estudos ou ingressar no ensino superior.
O Governo da direita apenas manteve a lógica de asfixia do financiamento e, hoje, mais de metade das
bolsas de ação social pagam apenas o valor das propinas. A desresponsabilização do Estado é inequívoca, na
medida em que apenas 40% do financiamento da ação social é garantido via Orçamento do Estado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Luís Monteiro (BE): — Ou seja, temos um sistema que depende de fundos estruturais e, por isso
mesmo, um sistema que oferece menos garantias e mais atrasos aos estudantes.
Apesar de estarmos a percorrer um caminho de recuperação da eficácia da ação social, ainda estamos longe
dos números de 2010, o ano em que a ação social foi brutalmente reduzida. É esse o problema que queremos
atacar, numa visão articulada e estrutural.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Luís Monteiro (BE): — Porém, sabemos que os problemas não se ficam por aqui e o diagnóstico é
conhecido. Segundo o último estudo produzido pelo Conselho Nacional de Educação, Estado da Educação
2017, continuamos a ser um dos países onde o fosso entre o valor da propina praticado e o financiamento da
ação social direta é mais elevado. Ao mesmo tempo, somos um dos países da OCDE (Organização de
Cooperação e Desenvolvimento Económico) e da União Europeia onde o valor das propinas é mais alto.
Resumindo, o que o diagnóstico nos diz é que o ensino superior não é para todos. É essa a acusação que a
OCDE faz, demonstrando que Portugal continua aquém da meta, apontada para 2030, de ter 40% de diplomados
entre os 30 e os 34 anos.
A falta de eficácia da ação social, a pouca abrangência do seu regulamento ou o valor absurdo das propinas,
que ainda persiste em Portugal, são fatores que servem de travão ao acesso ao ensino superior.
O ano de 2019 é, por isso, histórico no que diz respeito ao início das respostas a estes problemas. Em boa
hora, o Bloco garantiu a descida do valor máximo das propinas em 212 €, um pequeno passo para iniciar um
caminho que garanta um Estado social onde ninguém fique para trás, caminho, esse, que temos de continuar
até à eliminação das propinas.
No entanto, as mudanças na ação social também são essenciais e, por isso, iremos reapresentar as nossas
propostas para a sua melhoria.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Luís Monteiro (BE): — Sabemos bem que a discussão sobre o futuro do ensino superior não passa
pela chantagem feita pela direita, que contrapõe as escolhas entre mais bolsas ou menos propinas. Como nos
mostra a sua atuação no Governo, a direita quer mesmo propinas em alta e bolsas em baixa, que é como quem
diz: o ensino superior não é para quem quer, é para quem pode! Tal não passa sem a nossa denúncia e o nosso
combate.
Aplausos do BE.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: É necessário descontaminar a discussão. Se queremos um ensino
superior robusto, democrático e universal, como emana da Constituição da República Portuguesa, então, não
se pode continuar a ensaiar uma espécie de guerra entre direitos.
O acesso a um ensino superior livre de propinas não se contrapõe ao direito de acesso às bolsas de ação
social e a capacidade de investimento em mais ação social não obriga à existência de propinas. Enganam-se
aqueles que, assustados com a ideia do fim das propinas e um ensino superior para todos, utilizam a chantagem
para negar direitos aos estudantes.