17 DE JANEIRO DE 2019
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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota
Soares.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Vitalino Canas, cumprimento-o por ter
trazido este tema a Plenário, que está na ordem do dia depois da votação que vimos ontem acontecer no
Parlamento britânico.
Sr. Deputado, certamente, o que está a acontecer relativamente ao processo de saída do Reino Unido da
União Europeia, o Brexit — nenhum de nós desejaria que acontecesse o que está a acontecer, o CDS já o disse
muitas vezes —, é mau para a Europa, é mau para Portugal e também é mau para o próprio Reino Unido, mas
não pomos em causa, como é óbvio, a vontade soberana do povo britânico, que votou em referendo.
Se, nesse sentido, o que ontem aconteceu é um resultado indesejável, infelizmente já não é um resultado
improvável. Isto é, todos nós fomos percebendo, nomeadamente ao longo dos últimos meses, que o que ontem
sucedeu com esta votação, que deixa o Reino Unido sem um acordo de saída e sem um acordo de transição
para essa mesma saída, não era uma situação improvável. Diria que todos nós o percebemos, com exceção de
uma pequena aldeia, não de gauleses, mas neste caso de lusitanos, que é o Governo de Portugal, que até ao
dia de ontem sempre acreditou, com um otimismo irritante — e deixe-me usar esta expressão, Sr. Deputado,
porque é uma expressão que um socialista percebe facilmente —, que não viria a acontecer o que aconteceu
com aquela votação.
Isso, Sr. Deputado, deixa muitos portugueses que estão no Reino Unido a trabalhar numa situação em que
não sabem o que vai acontecer no seu futuro, e também não sabem, efetivamente, com que tipo de apoio podem
contar por parte do Governo português. A mesma coisa acontece relativamente às muitas empresas
portuguesas que estão a exportar para o Reino Unido, que é o nosso quarto maior parceiro comercial, do ponto
de vista dos produtos, e até o primeiro, do ponto de vista dos serviços. A verdade é que, ao dia de hoje, uma
empresa portuguesa não sabe que tipo de apoios poderá ter.
Uma empresa em Espanha, uma empresa na Irlanda, uma empresa na Holanda, uma empresa na Suécia,
uma empresa na Dinamarca já sabem com que tipo de apoios poderão contar, mas isso não acontece em
Portugal.
Por isso mesmo, Sr. Deputado, acompanho uma parte muito importante da sua intervenção, mas há uma
outra parte que não acompanho, e é sobre ela que lhe queria perguntar o seguinte: não lhe parece que o Governo
português «dormiu na forma», nesta matéria, e que adiou até ao limite do indesejável a apresentação de
soluções, que são essenciais, quer para os cidadãos portugueses, quer para as empresas portuguesas que
neste momento estão a exportar para o Reino Unido?
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Também para formular pedidos de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª
Deputada Isabel Pires.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Vitalino Canas, começo por agradecer o tema que
trouxe hoje ao período de declarações políticas. Obviamente, todos nós percebemos a dimensão daquilo que
estamos aqui a discutir, até porque a comunidade portuguesa é uma das maiores comunidades no Reino Unido
e, portanto, toda esta matéria tem aqui uma influência grande.
Sabemos que o Brexit é um dos processos políticos mais complexos das últimas décadas, mas deixe-me
dizer-lhe que aquilo que mais se retira de todo este processo, seja da parte da União Europeia, seja da parte do
próprio Reino Unido, é um enorme sentimento de incerteza e de insegurança, acima de tudo, para todas as
comunidades — no nosso caso, para a comunidade portuguesa — que têm pessoas a trabalhar e a morar no
Reino Unido e que, desde o início, têm este sentimento que é muito difícil de dissolver.
Já ontem tivemos oportunidade de dizer ao Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros que é normal que,
passado quase mais de um ano e meio desde o início de todo este processo, quando não houve uma posição
forte e clara desde o início, seja muito difícil reverter este sentimento de insegurança que a comunidade
portuguesa também tem vindo a demonstrar.