I SÉRIE — NÚMERO 45
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O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — A senhora nunca as pôs em causa durante esse mandato, e não é agora
que o vai começar fazer.
Vozes do PSD: — É verdade!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr. Deputado João Pinho de Almeida, a realidade é o que é! Nós estávamos
a trabalhar no âmbito de uma comissão de inquérito para apurar toda a verdade, doesse a quem doesse, sobre
o que aconteceu na Caixa Geral de Depósitos. Alguém, por razões ideológicas, por camaradagem ou por outro
motivo qualquer, boicotou esse trabalho…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso não é verdade!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — … e quis encerrar essa comissão à pressa para que os portugueses e o
Parlamento não soubessem a verdade.
Estamos hoje em condições de retomar esse trabalho? Que se retome, então! Amanhã? Logo à tarde? Para
a semana? Quanto mais depressa melhor, porque o tempo urge e o tempo que passa não o voltamos a
recuperar. A realidade é o que é! Os portugueses querem saber para onde foram mais de 4000 milhões de euros
dos seus impostos! Têm o direito de saber isso, e o Governo, que procurou esconder isso, não tem mais hipótese
de fuga! Nós vamos saber a verdade!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Delgado Alves, do PS.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Um dos
investigadores do século XX que mais precocemente se debruçou sobre os temas da qualidade da democracia,
Robert Huggins, sublinhava que «a morte das democracias provavelmente não resultaria de um assassinato
através de uma emboscada, mas antes de uma lenta extinção provocada pela apatia, pela indiferença e pela
subnutrição». Uma breve observação da realidade contemporânea, infelizmente, não nos permite desconsiderar
a pertinência desta citação.
Hoje, sentem-se as consequências da desatenção com a qualidade das instituições e, muitas vezes, mais
do que isso, com a perceção que os cidadãos nem sempre corretamente delas estabelecem.
São hoje muitos os indicadores que mostram que os tempos que vivemos não são como aqueles a que o
final do século XX e início do século XXI nos habituaram, em que acreditávamos na vitalidade das democracias,
no seu alargamento a mais Estados e no progressivo aumento da tutela dos direitos fundamentais.
Hoje, efetivamente, a ideia de que o fim da história estava ao virar da esquina desapareceu e chegou a tempo
de a história ter tido capacidade de a perceber.
No entanto, não queremos enveredar por leituras tremendistas ou apocalípticas e queríamos, precisamente,
enfatizar aquilo que é necessário fazer e aquilo que se tem vindo a fazer para contrariar este sentimento e evitar
as pulsões populistas que ameaçam as democracias.
Ainda que muitos indicadores económicos ou sociais revelem evoluções positivas, no plano nacional, no
plano local, no plano europeu, até no plano internacional, as perceções dominantes nem sempre evidenciam
esta realidade.
O rescaldo da crise do início do século, combinado com a subsistência de graves assimetrias na distribuição
de rendimentos ou de oportunidades, a erosão da credibilidade de algumas instituições, fruto, também, de maior
escrutínio, nem sempre da forma mais equilibrada, que a sociedade de informação permite realizar, tem criado
uma perceção da realidade que alimenta populismos, gera democracias iliberais e permite o crescimento de
extremismos em locais onde não gostaríamos de assistir.
Neste contexto, o patamar de exigência de ponderação que todos os decisores públicos devem encetar no
espaço público, aqueles que querem preservar as instituições democráticas, deve ser particularmente exigente.