9 DE FEVEREIRO DE 2019
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O Sr. Presidente: — Para uma declaração de voto, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha, do Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: A participação de mulheres
e homens em igualdade é um fator-chave para o desenvolvimento de qualquer sociedade, mas, mais do que
isso, é uma questão de direitos humanos.
Combater a exclusão das mulheres em todos os aspetos da vida pública e privada e, especificamente, nos
órgãos de tomada de decisão e liderança do Estado é, pois, exigência fundamental para a transformação social
e o caminho necessário para uma sociedade saudável, justa e igualitária.
A realidade teima em mostrar-nos, contudo, que a participação das mulheres, em especial na liderança e na
tomada de decisão política, continua a ser minoritária: em mais de quatro décadas de democracia, tivemos 484
ministros homens e apenas 34 ministras mulheres; atualmente, nesta Casa, em 230 assentos, temos 150
homens e 80 mulheres; no poder local, a desproporção é ainda mais flagrante.
Não nos iludamos: sabemos que se hoje estão sentadas nesta Casa 80 mulheres, devemo-lo à lei da
paridade de 2006, ou ao embuste, como já lhe chamaram; mesmo assim, 13 anos depois, continuamos a cumprir
apenas o mínimo legalmente exigível. Por isso, estas iniciativas que aprovámos hoje constituem mais um passo
necessário no caminho pela igualdade entre homens e mulheres.
O Bloco de Esquerda considera que se perdeu uma oportunidade de ir ainda mais longe e de garantir a
efetiva representação paritária. Sabemos que os 40% refletem as recomendações europeias, mas também
sabemos que não refletem a realidade. Na sociedade, metade são homens e metade são mulheres, e só faz
sentido que também assim seja nos órgãos de tomada de decisão política.
Não deixamos, contudo, de nos congratular com mais este avanço no aprofundamento da igualdade e da
democracia em Portugal e esperamos que, de hoje a um ano, as mulheres aqui sentadas não correspondam a
apenas 40% dos assentos — ou seja, que não sejam apenas 92 mulheres, o mínimo dos mínimos —, mas
muitas mais.
O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Se isso acontecer, e quando isso acontecer, saberemos, então, que estamos
no caminho certo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Peixoto, do Grupo
Parlamentar do PSD.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, para que não se pense
que esta é uma causa apenas de mulheres, penso que seria importante vir um homem dizer aquilo que o seu
grupo parlamentar, neste caso o Grupo Parlamentar do PSD, pensa sobre esta matéria. E, Sr.as e Srs.
Deputados, o PSD defende acerrimamente o princípio do aumento da participação das mulheres na vida pública
e na vida política.
É óbvio que esta lógica não invalida outra lógica, que é a do mérito. Por isso, o que nós entendemos, depois
da proposta que nos foi apresentada pelo Governo, é que teríamos de ser o partido moderado, da sensatez,
convencendo o Partido Socialista, como aliás convencemos, a deixar cair algumas normas que nos pareciam
radicais e que não iam de encontro ao sentimento das pessoas, nem às recomendações da Europa.
Assim, entendemos que, hoje, com a aprovação deste diploma, triunfou esse bom senso, essa moderação,
esse equilíbrio. E o equilíbrio vem das bancadas do Partido Social Democrata, do Partido Socialista, mas,
também, de alguns Deputados do CDS-PP, que foi, aliás, decisivo para aprovar a anterior lei, aquela que há
pouco votámos, da paridade na Administração Pública.
Por isso, o que está aqui em causa é um princípio, uma filosofia, uma lógica que não tem nada a ver com
partidos, não tem muito a ver com ideologias, mas tem a ver com o posicionamento que cada um de nós tem
relativamente a essas matérias.