I SÉRIE — NÚMERO 54
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O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
Faz favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, estamos num debate um pouco
estranho. Chama-se moção de censura ao Governo, mas o proponente apressou-se a explicar que não era bem
isso. No dia em que anunciou a apresentação desta moção, veio logo dizer que isto era para clarificar a posição
do PSD…
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Vote!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — … e, portanto, presumo que estejamos numa corrida da direita.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Não diga disparates!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Houve ainda quem notasse que o CDS apresentou a moção de censura
escassas horas depois do anúncio de uma investigação do Ministério Público à venda do Pavilhão Atlântico,
feita pelo Governo PSD/CDS, quando Assunção Cristas era a ministra da tutela. Talvez possa ser também uma
cortina de fumo.
Mas nós, no Bloco de Esquerda, que levamos estas coisas a sério, não deixámos de ler o texto da moção
que o CDS escreveu…
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Apresente uma moção de censura!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — … e tirámos a única conclusão possível: é uma moção de autoavaliação. O
CDS está a censurar-se pelo que fez até agora. E faz muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Escreve o CDS que as lutas laborais e as greves são mais do que muitas.
Fala de contestação social e mobilização social como nunca se viu um partido da direita fazer em Portugal. Cita
vários exemplos de expectativas, legítimas, que não foram respondidas. E é um facto que professores, forças
de segurança, oficiais de justiça reclamam pela justa contagem do tempo de serviço, que enfermeiros e técnicos
superiores de diagnóstico e terapêutica querem ver cumpridas as promessas sobre as suas carreiras, que
trabalhadores da Petrogal lutam pelo seu contrato coletivo de trabalho e aguardam que este Parlamente lhes dê
força e acabe com a caducidade unilateral da contratação coletiva que dá aos herdeiros de Américo Amorim
todo o poder para baixar salários e direitos.
Mas é o CDS, que não quis a reposição dos feriados, nem as 35 horas de trabalho semanal, nem o
pagamento de horas extraordinárias, que não quis nada do que foi feito em nome de quem trabalha, é o CDS,
repito, que hoje vê as greves feitas pelo País e censura o Governo pelo que ainda não foi feito. É extraordinário!
É um facto que o Governo podia e devia ter ido mais longe, mas o que o CDS esconde, mas todo o País
sabe, é que se esses avanços não aconteceram foi porque o mesmo CDS, seja pela abstenção, seja pelo voto
contra, apoiou o Governo a travar cada uma das soluções quando a esquerda as propôs aqui.
Aplausos do BE.
Da contagem do tempo de serviço na função pública ao reconhecimento das carreiras na saúde ou na
proteção dos trabalhadores no privado, o PS contou sempre com o voto da direita, PSD e CDS, para garantir o
chumbo das propostas do Bloco que iam ao encontro das justas reivindicações dos trabalhadores.
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Apresente uma moção de censura ao Governo! Seja consequente!