23 DE FEVEREIRO DE 2019
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para a intervenção de encerramento, pelo Partido Socialista, tem a
palavra o Sr. Deputado Fernando Rocha Andrade.
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Com o debate de hoje,
encerra-se um trabalho iniciado na sequência de um projeto de resolução do Partido Socialista, que mereceu o
acolhimento unânime desta Câmara e que, ao longo de um ano, envolveu um intenso debate e a auscultação
da sociedade portuguesa.
Já aqui foi referido, mas não é demais sublinhar, que se tratou de uma participação da Assembleia da
República nesta discussão que é ímpar no contexto europeu, que é um exemplo de abertura do processo
parlamentar à sociedade e na qual deve ser destacado o trabalho sério de procura de consensos na pluralidade
de pontos de vista que é inerente à própria instituição parlamentar.
Um desses consensos foi no reconhecimento da importância da manutenção do financiamento da coesão,
pelo menos aos atuais níveis e em termos reais. Com o aumento das verbas afetas a programas de gestão
direta, aquele objetivo torna necessário, na nossa opinião, um financiamento global mais robusto para o futuro
quadro do que aquele que consta da proposta da Comissão Europeia. Sabemos que o consenso não se
estendeu a esta conclusão nem aos meios para a atingir.
A posição do Governo português foi clara, no sentido de defender a necessidade de aumentar as verbas
globais do quadro para 1,3% do rendimento nacional, em vez dos 1,1% propostos pela Comissão, aceitando,
inclusivamente, um aumento das participações nacionais, se tal fosse a posição unânime do Conselho. Aumento
das participações nacionais que se traduz, aliás, na posição do CDS e que exigiria impostos portugueses mais
altos do que de outra maneira teriam de ser, embora o CDS hoje, mais uma vez, tenha negado que a sua posição
tenha essa consequência — impostos portugueses mais altos —, negação que é, contudo, mais uma vez,
apenas um exercício de tortura da lógica e da matemática.
A melhor solução teria sido a do aumento dos recursos próprios da União, e foi esta a posição do Grupo
Parlamentar do PS, apoiando a posição do relatório adotado pelo Parlamento Europeu. Apoiámos,
nomeadamente, a criação de novos recursos próprios, inclusivamente a tributação ao nível europeu de
transações financeiras e das empresas multinacionais do digital.
Além do contributo que tais instrumentos dariam ao quadro, seriam também uma forma de melhorar a justiça
e a progressividade tributárias no espaço da União Europeia.
Sr.as e Srs. Deputados: A defesa de uma suposta soberania absoluta em matéria tributária é apenas a defesa
de um sistema em que uma parte significativa das bases tributárias escapa aos impostos que existem, e que
em teoria as deviam abranger, e escapa em benefício dos titulares de maiores rendimentos.
Os instrumentos tributários europeus cuja criação se sustenta permitiriam que fossem sujeitas a imposto
atividades geradoras de volumosos rendimentos que só podem ser tributadas eficazmente a um nível
supranacional e que escapam, no presente, à capacidade de tributar de qualquer Estado-Membro e, portanto,
do Estado português.
O Sr. Ascenso Simões (PS): — Muito bem!
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Embora tal possa não ser
claro, em função da vivacidade do debate, Portugal tem historicamente uma boa execução dos fundos
comunitários e, com este Governo, novamente, uma taxa de execução entre as melhores da Europa.
A aplicação destes fundos é, nas últimas décadas, um dos fatores da transformação que a democracia
realizou em Portugal, um dos fatores da construção de um Estado de direito e de um País mais próspero e com
uma mais justa distribuição do rendimento.
Com as recomendações desta Comissão Eventual, desejamos contribuir para que o próximo quadro
financeiro plurianual seja novamente um instrumento para o progresso do País e para a continuidade da
construção do projeto europeu. E é importante relembrá-lo, quando somos confrontados com saudosismos
assentes em representações miríficas do Portugal do passado, bem como, um pouco por toda a Europa, com a
recuperação de ideias e de movimentos que pensávamos já confinados ao caixote do lixo da história, caixote
do lixo, ao qual, aliás, indiscutivelmente, pertencem.