8 DE MARÇO DE 2019
21
Governo solicitou ao Banco de Portugal o envio da auditoria e o Banco de Portugal não nos revelou a auditoria.
Pergunta-me se tenho curiosidade. Claro que tenho curiosidade. Acho que todos temos curiosidade. Qualquer
português tem curiosidade!
Agora, eu, como Primeiro-Ministro, tenho de me ater às minhas competências e respeitar as competências
dos outros, e não posso fazer tanto como aquilo que, por vezes, gostaria de fazer.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra, a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, que o Governador do Banco de
Portugal é tudo menos claro, já sabíamos. Portanto, quanto muito, o Bloco está perplexo e pergunta-se por que
razão ele continua Governador do Banco de Portugal.
Que Sérgio Monteiro, que o Governador do Banco de Portugal pôs a tratar da entrega do Novo Banco, fez
negócios estranhos de privatizações, já sabíamos, com a venda dos CTT ou dos seguros da Caixa, e também
não temos quaisquer dúvidas sobre isso.
Que a resolução do BES foi insuficiente e ia criar problemas, também já sabíamos desde o início. Aliás, logo
em 2014, o Bloco de Esquerda propôs o alargamento da resolução a credores institucionais e seniores, o que
foi recusado por PSD e CDS. Mas o que aconteceu a seguir veio comprovar que tínhamos razão.
Em 2014, a resolução levou 4000 milhões de euros dos contribuintes — aliás, o Sr. Primeiro-Ministro, na
altura, ainda na oposição, explicou, e bem, que era uma ilusão que o Fundo de Resolução não fosse dinheiro
dos contribuintes, e acompanho-o nisso.
Em 2015, estes 4000 milhões de euros já não chegavam e o Banco de Portugal procede a uma nova
resolução, chamando os credores seniores.
Ora, em 2017, quando o Governo decidiu entregar o Novo Banco à Lone Star, é criada uma garantia pública
— a que o Governo deu o nome de «mecanismo de capitalização contingente», mas que, para os devidos
efeitos, funciona como uma garantia — de outros tantos mais 4000 milhões de euros, ou quase, precisamente
porque a resolução tinha sido insuficiente.
Aliás, na decisão da Comissão Europeia, de 2017, sobre o Novo Banco está lá o alerta para a má avaliação
dos créditos.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Claro!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Portanto, que esse problema existia, já sabíamos, e também que essa
avaliação da Comissão Europeia foi feita não só sobre a resolução mas também sobre o período de gestão do
Novo Banco no Fundo de Resolução. Ou seja, nada disto é novo, já tudo é conhecido.
O nosso espanto é que é agora, quando a Lone Star ativa os direitos que o Governo lhe deu, que parece
existir um espanto generalizado e o Governo diz que não sabe tudo.
A minha pergunta é: o que é que o Governo descobriu, entretanto? O que é que o Sr. Primeiro-Ministro sabe
agora que não sabia em 2017, quando entregou o Novo Banco à Lone Star?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, o que o Governo sabia, na altura,
foi aquilo que a entidade de resolução, que era o Banco de Portugal, informou ao Governo e informou ao
mercado, e aquilo que hoje sabemos é que as necessidades de capital contingente são superiores ao que tinha
sido informado que seriam as necessidades.
Bem andou o Governo, ao não ter aceitado uma garantia e ter fixado um limite máximo, quer para o capital
contingente, quer para o esforço anual que seria solicitado ao Fundo de Resolução para o capital contingente.