I SÉRIE — NÚMERO 63
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A segunda iniciativa legislativa que Os Verdes apresentam pretende, por sua vez, remover as penalizações
aplicadas a trabalhadores que já tenham acedido à pensão antecipada. Fazemo-lo não só por uma questão de
justiça mas também como forma de travar o empobrecimento e a deterioração das condições de vida das
famílias que essas penalizações continuam a potenciar.
Hoje é, também, o dia em que veremos quem está do lado dos reformados e dos pensionistas e quem não
está.
Aplausos de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para apresentar as três iniciativas legislativas do seu partido,
tem a palavra o Sr. Deputado José Moura Soeiro, do Bloco de Esquerda.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em matéria de pensões não
estamos todos de acordo.
A direita utilizou sempre a desculpa e o pretexto da sustentabilidade para aplicar os cortes que defende,
simulando que os problemas que se colocaram ao equilíbrio da segurança social se deviam aos valores das
pensões, que, aliás, em Portugal, continuam a ser extremamente baixos na sua generalidade, e não aos
seguintes fatores: o desemprego, que significa menos contribuições e mais encargos, e que, aliás, aumentou
substancialmente no período do Governo PSD/CDS; a precariedade e a informalização do trabalho, que expulsa
as pessoas do contrato de trabalho e, por isso, também da proteção social e da contribuição; e a imigração, que
levou centenas de milhares de pessoas de potencial criativo, produtivo, de produção de riqueza, para fora do
País.
Como se provou nos últimos anos, o que assegura o equilíbrio e a sustentabilidade da segurança social é
recuperar rendimentos, aumentar as pensões, combater a precariedade e criar emprego.
Entre as bancadas da esquerda e o Partido Socialista há, também, diferença no modo como olhamos para o
trabalho e para a segurança social e essa diferença não está, nunca esteve e é falso que esteja na preocupação
e no compromisso com a sustentabilidade, porque a preocupação e o compromisso com a sustentabilidade da
segurança social são objetivos comuns e totalmente partilhados.
A diferença está em saber o que fazemos com o aumento da produtividade, com a maior capacidade de
produzir riqueza, com a mais-valia trazida pela inovação tecnológica e com o aumento da esperança média de
vida.
Para o Bloco, não faz sentido que, mais de um século depois da luta pelas 40 horas de trabalho, tenhamos
ainda tanta gente a trabalhar mais do que 40 horas por semana. Mais do que isso: as inovações tecnológicas
das últimas décadas deviam pôr-nos a trabalhar menos e não mais, deviam reverter a favor dos trabalhadores
e do tempo para viver e não transformar-se em mais trabalho. Por isso, devíamos precisamente reduzir o horário
de trabalho, distribuir emprego, e não o contrário.
A redução do tempo de trabalho faz-se por três vias: em primeiro lugar, a redução semanal do tempo de
trabalho, a luta pelas 35 horas, também no setor privado; em segundo lugar, a redução anual do tempo de
trabalho, a luta, por exemplo, pela devolução dos três dias de férias que o PSD e o CDS roubaram, quando os
suprimiram da lei; e, finalmente, a luta pela redução do tempo de trabalho no tempo da vida, e esta é a questão
da idade da reforma.
Aumentar todos os anos a idade da reforma e fazer associar pesadas penalizações a quem se queira reformar
depois de décadas de trabalho é uma forma de prolongar o tempo de trabalho, transformando o aumento da
esperança média de vida numa punição e numa condenação, em vez de ser uma boa notícia que nos permitiria
ter mais tempo para viver e, sobretudo, mais tempo para viver com qualidade de vida.
Este é, em grande medida, o debate que hoje aqui temos. Sabemos que temos, sobre isto, diferenças
relevantes com o Partido Socialista, que não aceita a redução do tempo de trabalho no setor privado, que não
aceita a devolução das férias ou o regresso à idade da reforma, que existia, curiosamente, na legislação de
Vieira da Silva, mantendo e tendo mantido até agora o aumento anual e o fator de sustentabilidade, que vêm do
PSD e do CDS.
Essas diferenças relevantes não nos impediram de dar passos concretos nesta Legislatura que minorassem
injustiças, e esses passos são reconhecidos. Além do aumento anual do valor das pensões, esta maioria foi