I SÉRIE — NÚMERO 65
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A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: O facto de o Bloco de
Esquerda ter agendado este ponto permite-nos debater no Parlamento o tema dos impostos sobre as empresas
e serviços digitais.
E é bom estarmos a fazer este debate após termos discutido aqui, na agenda de sexta-feira, o tema da
proposta da Comissão Europeia «Rumo a um processo de decisão mais eficaz e mais democrático no âmbito
da política fiscal da União Europeia».
É que este é um caso paradigmático. Diz o Bloco de Esquerda, no seu projeto de lei, referindo-se ao atual
estado da arte a nível europeu, que «(…) não existe a vontade política para dar esse passo,…» — ou seja, uma
nova forma de taxação da economia digital que seja mais justa e equitativa — «… brindando as multinacionais
da economia digital com a manutenção da sua fuga fiscal».
E continua: «Particularmente à escala europeia, assiste-se a uma paralisação do processo de criação de
uma forma de taxação das multinacionais da economia digital porque se colocam vários interesses nacionais à
frente de uma solução coletiva».
Ora, a Comissão Europeia apresentou, em março de 2018, um pacote sobre o digital, o Digital Tax Package,
aliás, citado também na exposição de motivos deste projeto de lei do Bloco de Esquerda.
Esse pacote inclui duas propostas de diretiva: uma que «estabelece regras relativas à tributação das
sociedades com uma presença digital», a qual permite que os próprios Estados-Membros também tributem esta
atividade, como, aliás, já o referiu o meu colega Rocha Andrade; e outra «relativa ao sistema comum de imposto
sobre os serviços digitais aplicável às receitas da prestação de determinados serviços digitais».
Em março, a Comissão Europeia propôs aos Governos dos Estados-Membros que se criasse um imposto de
3% sobre as receitas online das grandes empresas digitais.
Os ministros não conseguiram chegar a um acordo que assegure que as grandes empresas de tecnologia
paguem um nível mínimo de impostos, tendo a França e a Alemanha apresentado uma nova proposta para
tributar, pelo menos, as receitas que as empresas conseguem através dos anúncios online. A Comissão
Europeia altera a proposta de diretiva para a criação de um imposto apenas sobre os serviços de publicidade
online, mantendo a taxa de 3% e prevendo a sua aplicação a partir de janeiro de 2021. Um recuo claro relativo
à proposta inicial da Comissão Europeia, mas na procura de um consenso mínimo.
A Comissão Europeia disse que seria «um penso rápido», temporário, até uma solução mais ampla ser
alcançada entre os membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico).
Mas o tema continua a dividir os Estados-Membros da União Europeia, que discutiram o imposto na reunião
dos Ministros das Finanças, de terça-feira, em Bruxelas.
Por que é que não houve uma decisão robusta na criação de um imposto sobre o digital? Porque estas
decisões, atualmente, são tomadas por unanimidade!
Aplausos do PS.
E há sempre um país que prefere não taxar as empresas digitais — …
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — A Alemanha!
A Sr.ª Margarida Marques (PS): — … e, neste caso, até nem estou a pensar na Alemanha.
Se nós olharmos bem para o panorama, muito em particular o GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon,
Microsoft), percebemos bem a indisponibilidade de alguns Estados-Membros da União Europeia, aliás,
facilmente identificáveis, que terão muita dificuldade em dar o seu voto a um imposto sobre o digital.
Mas este imposto é necessário para uma tributação justa à «escala europeia» — não temos dúvidas disso e
o Bloco de Esquerda parece também não ter, como deixa claro na sua exposição de motivos.
Efetivamente, as empresas digitais são fundamentalmente empresas globais. Qualquer iniciativa a nível
nacional é redutora e não resolve o problema. Não chega a ser um «penso rápido».
Aplausos de Deputados do PS.