I SÉRIE — NÚMERO 66
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O Governo andou sempre a reboque dos acontecimentos, mais propriamente a não fazer o que dele se
esperava: governar decidindo; governar regulando; governar impedindo; ou governar legalizando.
Como prova deste poucochinho governamental, em maio de 2016, o Governo criou um grupo de trabalho
com vista à modernização do setor do táxi, que, alegadamente, deveria produzir resultados em 60 dias. Isto foi
há três anos.
Em julho de 2016, o Governo, através do Instituto da Mobilidade e dos Transportes, promoveu a criação de
um regulamento para legalizar a Uber e demais plataformas, que era para ficar pronto após o verão de 2016.
Isto foi há três anos.
Finalmente, o Governo deu entrada de uma proposta no Parlamento à qual o PSD, responsavelmente,
contrapôs uma proposta alternativa, denunciando os vícios e insuficiências do Governo.
Com o assunto nas primeiras páginas dos jornais, as plataformas a operar legalmente e o setor do táxi sobre
brasas, o Partido Socialista teve três momentos distintos de intervenção: primeiro, enquanto pôde, adiou; depois,
quando não pôde, tentou negociar à esquerda; finalmente, rendido, para não dizer derrotado, foi obrigado a vir
ao encontro das propostas do PSD e encontrar uma base de entendimento maioritária no Parlamento.
Conforme todos recordamos, este primeiro diploma sofreu um veto do Sr. Presidente da República.
Recordam-se?! Este veto tinha por base dois argumentos: a) o valor das tarifas a pagar pelas empresas ao
setor; e b) a falta de atualização do quadro legal da atividade dos táxis face ao conjunto de direitos e de deveres
regulados por esta lei.
O Sr. Presidente da República já reconhecia, e bem, que o facto de os táxis terem contingentes e preços
fixos dava vantagem às plataformas e era preciso uma solução equilibrada. O veto foi muito bem recebido, mas
a tal solução equilibrada foi metida na gaveta.
Estamos em 2019, perto do fim do mandato de um Governo que veio em 2015, e, conforme se adivinhava,
o Governo e os partidos que o suportam mantêm um ensurdecedor silêncio sobre o tema.
Sr.as e Srs. Deputados, quando o Governo falha, quando o Partido Socialista falha, quando a geringonça
falha, os portugueses têm o direito de esperar que o PSD, enquanto partido com maior representação nesta
Câmara e único partido capaz de protagonizar uma alternativa à atual governação, assuma a responsabilidade
de apresentar a debate uma proposta de regulamentação do setor do táxi.
Cá estamos, a apresentar a discussão e a votação uma proposta: a nossa! Vimos inspirados no veto do Sr.
Presidente da República, ao qual todos bateram palmas, mas, de seguida, meteram as mãos nos bolsos e vimos
nós fazer o que ainda não foi feito.
Tendo por base este histórico de absoluto vazio legislativo e regulamentar no setor do táxi, a nossa proposta
inspira-se na leitura atualista que fazemos da questão, bebendo do que lemos, ouvimos e estudamos em
Portugal, em outras geografias e em outros ordenamentos jurídicos.
Ademais, entre outras, refletimos as preocupações e as sugestões da Autoridade da Concorrência, que,
como entidade independente, vinha reclamando, desde 2016, diversas alterações relevantes; o estudo da
Autoridade da Mobilidade e dos Transportes de 2017, relativo ao setor do táxi; o estudo da OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) e tudo aquilo que ouvíamos dos consumidores e do setor.
A nossa proposta constitui uma mudança do antigo modelo, pretende dinamizar o setor e contribuir para um
melhor serviço e inovação, sem retirar ao táxi a natureza de serviço público. Para tanto, propomos o fim dos
contingentes municipais, completamente desenquadrados da realidade e a impedirem o acesso de novos
agentes ao mercado. Se há táxis suficientes, porque é que há milhares de novos agentes a funcionar ao abrigo
de plataformas, em concorrência feroz?
Queremos o fim da barreira geográfica, levando este serviço público a todo o território.
Queremos a adequação de preços, com a fixação de preços máximos para defesa do consumidor e
transparência da atividade.
Permitimos o acesso a plataformas online, seja por taxistas, seja por todos os outros prestadores de serviços.
Harmonizamos os requisitos de certificação e de licenciamento, segurança, qualidade de serviço, evitando a
flagrante injustiça e a diferença de regimes em vigor.
Colocamos um fim à uniformização das características de imagem. Srs. Deputados, se quiserem preto e
verde, que seja preto e verde toda a vida. Podem continuar pretos e verdes ou adotar outra cor qualquer que
limita a diferenciação entre prestadores de serviços e não favorece a inovação, nem a qualidade da prestação
de serviços.