11 DE ABRIL DE 2019 11
Cinco vidas inteiras de trabalho, 226 anos a trabalhar, 40 horas por semana, todos os meses, todo o ano. Cinco
vidas! E, mesmo assim, Soares dos Santos ganharia um pouco mais do que essa trabalhadora.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É uma vergonha!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Estas desigualdades seriam, por si só, graves e ofensivas, mas, além dos
factos concretos ontem revelados, há uma tendência, e essa sabemos qual é. Na última década, a disparidade
entre salários tem aumentado agressivamente e, durante o período da crise, concretamente em Portugal,
enquanto os salários dos trabalhadores se mantinham estagnados ou até eram cortados, os vencimentos dos
gestores aumentavam 40% nas mesmas empresas. Se compararmos os dados de hoje com os de 2014, ano
em que a crise estava instalada, a média dos salários dos gestores continuou a subir — mais 300 000 € do que
então —, bem como a desigualdade dentro das empresas, de 33 para 52 vezes o valor do salário médio.
Já sabemos que há muitos modos de atacar este problema: com medidas fiscais e com contratação coletiva;
com políticas de distribuição de riqueza e com regras sobre o funcionamento interno das empresas na fixação
de salários; com a exclusão dos apoios do Estado e impedindo que estas empresas participem de arrematações;
ou, então, com o estabelecimento de leques salariais máximos, como o Bloco já propôs neste Parlamento.
Pela nossa parte, preferimos todas porque quanto mais combinadas mais eficazes, estas medidas serão.
Mas há uma que não serve para nada: a indignação verbal de ocasião para disfarçar a falta de vontade
política para tomar medidas concretas.
Aplausos do BE.
Em setembro do ano passado, há seis meses, o Bloco trouxe a debate um projeto de lei que definia
mecanismos de transparência nos salários e a fixação de um leque salarial máximo, cuja proporção caberia ao
Governo definir para combater estas desigualdades salariais.
Trouxemos ao Plenário, na altura, a imagem visual da desproporção absurda e injustificável dos salários,
com um gestor à escala humana que se comparava com a representação gráfica de trabalhadores que só se
conseguia ver à lupa.
A cada dia que passa, a realidade mostra como é preciso uma alteração urgente e como essa alteração não
pode dispensar a lei, como sempre defendemos.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Na realidade, ao terem rejeitado que esta Assembleia legislasse sobre
esta matéria, PS, PSD e CDS são cúmplices, desde esse momento, das desigualdades que se agudizam, porque
o tempo que estamos a perder desde setembro é o benefício dos gestores que se fazem pagar salários
supersónicos, pagos a esses gestores à custa do que não se paga a quem todos os dias faz verdadeiramente
a riqueza das empresas.
Os argumentos utilizados para chumbar esta medida de combate à desigualdade foram, contudo, reveladores
da força da nossa proposta.
PSD e CDS agitaram dois fantasmas: uma proposta deste tipo seria uma «bisbilhotice» e um «striptease
salarial», citei, e levaria, em segundo lugar, à deslocalização das empresas.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Pois foi! Exatamente!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Nenhum dos argumentos colhe.
O dever de informação sobre as desigualdades salariais já está na lei para as empresas do PSI-20
(Portuguese Stock Index) — por isso é que temos os dados que temos — e está na lei para a generalidade das
empresas o dever de informação no que diz respeito à desigualdade de género.
Sobre a questão da deslocalização, esse fantasma, o que é que se pretende sugerir com esse argumento?!
Que os CTT ou a EDP, que têm aqui o seu mercado e os seus balcões, vão distribuir correio ou eletricidade
para a Cochinchina se fixarmos um teto salarial máximo?! Sabemos que não vão.