12 DE ABRIL DE 2019
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Termino, lembrando palavras de ordem que alguns dos milhares de estudantes que se manifestaram em
frente desta Assembleia gritaram contra as alterações climáticas, no dia 15 de março: não há planeta B!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A próxima intervenção cabe à Sr.ª Deputada Ângela Moreira, do
PCP.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ângela Moreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do PCP reconhece
a necessidade de adoção de uma política de proteção do ambiente.
Contribui para este objetivo, obviamente, a utilização dos recursos naturais na medida das necessidades dos
seres humanos e o combate ao uso abusivo de materiais sem qualquer utilidade, que só contribuem para
aumentar a rentabilidade dos grandes grupos económicos.
A utilização desmesurada de plásticos é um dos problemas que está identificado, mas que exige, ao mesmo
tempo, o desenvolvimento de alternativas que não onerem as populações. O mercado e a sua sacralização
impuseram hábitos de consumo por vezes irracionais, comportamentos que nos fazem desprezar os recursos
naturais e olhar para a natureza como se de material descartável se tratasse.
Entendemos que uma política ambiental empenhada em garantir o direito a um ambiente sadio e
ecologicamente equilibrado, ao invés da habitual cedência ao objetivo do lucro, tem de ser o imperativo de toda
a legislação, uma legislação que seja tratada não de forma avulsa, mas orientada em todas as suas dimensões:
ambiental, económica e social.
Continuamos a apostar na política dos três R: reduzir a utilização dos plásticos, propondo alternativas
sustentáveis quer a nível ambiental, quer a nível económico; reutilizar, promovendo um tempo de vida mais
longo aos materiais; e reciclar, sendo que este é um ponto em que se tem de apostar, começando pela melhoria
dos sistemas de recolha e triagem dos resíduos, sem a demissão do Estado deste âmbito, responsabilizando-o
pela política e pela gestão dos resíduos.
Do mesmo modo, importa que o Governo assuma as suas competências pela imposição de normas de
funcionamento às empresas de recolha de resíduos, para que tenham como objetivo a melhoria do nível de vida
da população e da convivência com o ambiente, ao contrário da habitual cedência ao objetivo do lucro.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Se a proteção do ambiente é uma questão de todos, isso exige a
adoção de uma estratégia a nível nacional, em que o Estado assuma um papel preponderante para assegurar
uma intervenção coerente e coordenada, uma intervenção que não se pode resumir a opções proibicionistas e
de contraordenações, que acabam por penalizar os mesmos de sempre — os trabalhadores e as populações —
, nem sempre funcionando como solução para o problema.
A intervenção deve ser abrangente, envolvendo toda a comunidade e não ser contra a comunidade,
respondendo simultaneamente ao desafio do desenvolvimento e da proteção do ambiente. É óbvio que há
necessidade de diminuir a utilização de embalagens de plástico, sobretudo das que não têm qualquer utilidade.
Por isso, as soluções apresentadas no projeto de lei de Os Verdes merecem o apoio do PCP. Todas as
propostas em torno de campanhas de sensibilização e de consciencialização ambiental terão sempre o apoio
do PCP.
Consideramos, no entanto, que esta mudança deve ser, evidentemente, estudada, avaliada e planeada.
Temos de ter presente que nos pontos de venda de pão, frutas e legumes há a necessidade de manter a
qualidade dos produtos a par da segurança, higiene e saúde pública.
A iniciativa em discussão tem como objeto a obrigatoriedade de disponibilizar ao consumidor uma alternativa
aos sacos ultraleves e às cuvetes de plástico nos pontos de venda, sendo dado prazo para esta mudança até
junho de 2020.
Porém, importa aprofundar e discutir as soluções alternativas.
Acreditamos que a inovação assente na investigação e no desenvolvimento poderá dar resposta a esta
necessidade com a criação de alternativas sustentáveis, assim queira o Governo investir no nosso prestigiado
sistema tecnológico e científico.
Importa, contudo, ter presente que o impacto das medidas propostas pode ser diferenciado, mas suscita-nos
preocupação, em particular, quanto ao impacto nas micro, pequenas e médias empresas, nomeadamente nas
pequenas mercearias, padarias, frutarias ou nos vendedores em mercados.