I SÉRIE — NÚMERO 74
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A realidade das micro, pequenas e médias empresas é bem distinta da da grande distribuição. Estas últimas
rapidamente se adaptam a mudanças, já as pequenas mercearias, padarias ou frutarias não têm a mesma
capacidade de resposta e uma alteração desta natureza pode significar encargos acrescidos, penalizando-os e
penalizando as populações com aumentos de preços, que, mais uma vez, afetam de forma mais expressiva as
pessoas com mais baixos rendimentos. As micro, pequenas e médias empresas compõem uma grande fatia do
setor empresarial produtor de plástico e do comércio de frutas, legumes e pão, contribuindo para a economia do
País.
Acompanhamos a preocupação com a necessidade de encontrar soluções para substituir embalagens de
plástico, pelo que estamos disponíveis para, em sede de especialidade, discutir esta e outras propostas com o
objetivo de diminuir a produção e a utilização dos sacos de plástico, no sentido da harmonização entre o
desenvolvimento económico e social e a gestão sustentável dos recursos naturais.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A próxima intervenção cabe à Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca,
do CDS-PP.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O excesso de resíduos de plástico
no meio ambiente é um problema que a todos convoca e as alterações climáticas obrigam-nos a pensar que, de
facto, não há planeta B. Mas, se há realidades que são nossas e para as quais devemos contribuir e lutar,
também há realidades que não são as nossas e que nos ultrapassam, mesmo que façamos a nossa parte o
melhor que pudermos.
É por isso, Srs. Deputados, que nos parece excessivo e errado querer atribuir responsabilidades,
nomeadamente a Portugal, pela existência das enormes ilhas de plástico, que são, de facto, um problema
gigante mas que continuarão a existir, infelizmente, enquanto outros países, em particular os menos
desenvolvidos, não fizerem a sua parte, não fizerem uma recolha seletiva e não tiverem saneamento básico.
Por isso, eles têm, também, de fazer a sua parte.
Este é um problema global que não consegue ser resolvido apenas à escala local. Por isso mesmo, a Lei de
Bases da Política de Ambiente, de 2014, definiu, e bem, que as políticas públicas de ambiente devem promover,
para além da informação, da participação dos cidadãos e da educação ambiental, soluções concertadas com
outros países, numa lógica de cooperação internacional.
Portugal está inserido na União Europeia e, por isso, nesta matéria, sem prejuízo dos incentivos positivos
que o Governo possa e queira criar para a redução da utilização de plásticos, é nosso entendimento que não
devemos obrigar as nossas empresas ao cumprimento de critérios mais exigentes do que no resto da União
Europeia, que já de si são mais exigentes do que em muitos outros países terceiros, sem lhes darmos os
incentivos positivos e permitirmos que se adaptem. A própria ZERO — Associação Sistema Terrestre
Sustentável, por exemplo, com quem o CDS reuniu por altura da discussão do Orçamento do Estado para 2019,
reconheceu que a proibição dos sacos de plástico ultraleves no imediato era precoce, por não haver alternativas.
No espaço de poucos meses, há já até quem esteja a dar passos no sentido de encontrar essas mesmas
alternativas. Isto mostra que a sociedade civil está extremamente alerta e sensível para esta questão, quer
sejam consumidores, quer sejam operadores económicos.
Há, também, um caminho muito grande a percorrer em termos de inovação. Grandes superfícies já
anunciaram que vão acabar com os sacos de plástico para frutas e legumes e na secção do pão, e não é para
2020, pois já têm até em curso, no terreno, projetos-piloto, disponibilizando aos consumidores sacos de pano e
permitindo, inclusivamente, que tragam os seus próprios sacos de casa.
Por isso, no CDS, não defendemos soluções radicais obrigacionistas, impositivas e sancionatórias. Se o
mercado está livremente a adaptar-se, com todas as vantagens que isso traduz, sobretudo ambientais mas
também potenciando a inovação pela procura de novas soluções, porquê impor antecipadamente?! É que este
caminho coloca as nossas empresas numa situação de desvantagem competitiva e de desvantagem
comparativa perante os seus parceiros europeus. Não esqueçamos, Srs. Deputados, que o tecido empresarial
português é esmagadoramente constituído por pequenas e médias empresas, e não por grandes empresas,
como, por vezes, os partidos da esquerda nos querem fazer crer.