17 DE ABRIL DE 2019
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Deixo-vos agora o exemplo da Prof.ª Maria de Lurdes, que tem 15 anos de serviço e que começou a dar
aulas em 2004. Todos os anos fez formação contínua, entretanto, tirou uma pós-graduação, mas durante 14
anos ganhou o salário de base da carreira.
Ora, 14 anos depois, com o descongelamento, esta professora passou para o 2.º escalão. O que isto quer
dizer é que, passado um terço da sua vida profissional, esta professora está, agora, a começar a sua carreira,
porque quiseram tirar-lhe uma década do tempo de serviço.
Esta professora é provavelmente uma das professoras mais jovens do sistema de ensino. Para ela a
preocupação agora é se os pouco mais de 1200 € líquidos chegam para sustentar duas casas ou para os
transportes que provavelmente terá de pagar por ser uma professora deslocada, como muitas da sua idade e
com os seus anos de serviço.
Mas há professores com 20, 24, 26 anos de carreira que, com o tempo de congelamento, ficaram presos no
2.º, no 3.º, no máximo no 4.º escalão e para estes a questão e o problema não é apenas a promessa rasgada
do direito a uma carreira, o problema é também a certeza de uma reforma quando chegarem a velhos, uma
reforma que emagreceu com os 10 anos que lhes retiraram enquanto trabalhavam.
São 9 anos, 4 meses e 2 dias e nem mais uma hora! Os professores não pedem nem mais uma hora, não
pedem retroativos, não pedem privilégios, pedem apenas o que é seu de direito, que é o seu direito à carreira e
à sua carreira, não a uma qualquer outra, nem às regras das carreiras gerais com que inventaram um cálculo
esdrúxulo chamado «modúlo-padrão».
Não são três anos menos um bocadinho e também não são dois anos e três quartos, é quase uma década
de serviço, de trabalho dedicado à escola pública e que tem de ser reconhecido.
E era exatamente esse o mandato que o Governo tinha para fazer.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Mandato da Assembleia da República, na resolução que aprovou, e o PS
não votou contra; mandato da Assembleia da República no Orçamento do Estado para 2018; mandato da
Assembleia da República no Orçamento do Estado para 2019; e mandato, também, na declaração de
compromisso que o Governo assinou com os sindicatos.
O Governo falhou! O Governo falhou, porque nunca quis fazer negociações nem nunca tentou chegar a bom
porto, e falhou no respeito aos professores, quando impôs uma solução que rouba seis anos e meio de serviço
e cria uma avalanche de ultrapassagens.
É uma trapalhada com um desfecho triste, porque propõe, agora, aos professores uma situação de
desigualdade com os seus colegas da Madeira e dos Açores e uma recuperação de tempo amputada a um
terço.
O Governo falhou porque quis pôr a carreira europeia do Ministro das Finanças à frente da carreira dos
professores e à frente dos direitos dos professores.
Aplausos do BE.
Protestos do PSD.
E, como o Governo falhou, agora é o tempo do Parlamento. Agora é o momento legítimo e constitucional
para trazer aqui as apreciações parlamentares, que são o direito de um Parlamento que se quer inteiro na sua
soberania.
Ora, é isso que o Bloco de Esquerda aqui vem fazer: propor uma solução que responde aos professores e
que é responsável para com o País, porque defende a escola pública. Uma solução que propõe a recuperação
integral do tempo de serviço, com uma recuperação imediata dos 2 anos, 9 meses e 18 dias e o faseamento,
até 2025, do resto, com possibilidade de acesso, também, aos 5.º e 7.º escalões e à reforma antecipada. Esta
é a proposta do Bloco, que cumpre os objetivos dos sindicatos e não ignora a mobilização em torno de uma
iniciativa legislativa dos cidadãos.
Nós com o Partido Socialista já sabemos que não contamos.