I SÉRIE — NÚMERO 83
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O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Muito bem.
O primeiro pedido de esclarecimentos é da Sr.ª Deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Porfírio Silva, quando o Governo dramatizou
esta ficção em torno da carreira dos professores utilizou dois argumentos.
O primeiro foi o de que o Governo não tinha condições de governabilidade; o segundo foi o de que não teria
condições de sustentabilidade se esta proposta fosse aprovada no Parlamento e, portanto, teria de se demitir.
Sobre a governabilidade, estamos conversados: o PS sabe muito bem que esta maioria parlamentar está tão
estável como sempre esteve, até quer continuar a negociar os dossiers que ainda estão por fechar.
Mas, sobre sustentabilidade, a UTAO veio dar-nos alguns esclarecimentos. Em primeiro lugar, deu-nos a
diferença entre o líquido e o bruto, e a diferença é grande.
Em segundo lugar, veio explicar-nos que o Governo utilizou critérios novos para apresentar estes números,
que não tinha utilizado em medidas anteriores, porque quando apresentou os números do descongelamento das
carreiras usou sempre valores líquidos e nunca brutos, como agora, e quando falou no aumento das pensões
nunca somou o custo adicional anual, falou sempre no adicional de cada ano do aumento das pensões, de cada
vez que aumentavam, como sempre foi.
Em terceiro lugar, a UTAO veio explicar-nos que o impacto orçamental destas medidas respeita as regras do
défice e não só as respeita como mantém o superavit previsto pelo Governo e por ele anunciado. E diz-nos que
essas medidas que respeitam as regras do défice se referem a uma proposta que nem sequer é a proposta que
foi apresentada ou sequer aprovada por este Parlamento.
Apesar disso, o Governo, nos últimos dias, tem feito uma sucessão de milhões: 650 milhões de euros numa
primeira fase; 800 milhões de euros depois; entretanto, no meio, apareceram 1100 milhões de euros; e a UTAO
veio dizer «calma, porque são 400 milhões de euros».
A conclusão é esta: ou o Ministro das Finanças não sabe fazer contas ou, então, o Ministro das Finanças
quis enganar o País.
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — São as duas!
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Como o PS se farta de dizer que o Ministro das Finanças é o maior a fazer
contas, acho que a conclusão está muito óbvia para todos.
Mário Centeno pôs o País a contar os milhões de uma proposta que nunca existiu e muito menos foi
aprovada…
O Sr. Duarte Marques (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — … e, mesmo assim, mentiu sobre esses milhões, como o PS mentiu sobre
a existência de retroativos,…
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Isso é o habitual!
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — … como o PS mentiu sobre a existência de privilégios — disse o Sr.
Presidente da Câmara de Lisboa e disseram-no ministros deste Governo —,…
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — … como o PS mentiu sobre a desigualdade que existiria em relação às
carreiras gerais, quando, na verdade, essa desigualdade é o que existe agora, porque as carreiras gerais já
recuperaram todo o tempo de serviço e, na verdade, tudo isto se revelou uma grande campanha, alimentada do
ressentimento social que os senhores alimentaram em relação aos professores e às professoras, o qual fragiliza
a escola pública.