I SÉRIE — NÚMERO 84
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O Sr. Presidente: — Para encerrar o debate, por parte do Governo, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado
do Emprego.
O Sr. Secretário de Estado do Emprego (Miguel Cabrita): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O
debate de hoje veio demonstrar, se provas adicionais fossem precisas, que este é um tema justo, importante,
necessário e urgente.
É um debate justo, porque Portugal é um País ainda muito desigual e a precariedade é uma das formas mais
enraizadas e mais transversais de desigualdade.
É um debate importante, porque as consequências da precarização do emprego não se esgotam no mercado
de trabalho, pelo contrário, a precariedade tem repercussões que vão muito para além dele. A precariedade
compromete a vida das pessoas, a sua carreira, a sua proteção social, o seu bem-estar, não apenas no imediato
mas também no longo prazo. Compromete os projetos de vida dos trabalhadores e das suas famílias e, em
particular, de tantos jovens e jovens famílias. E agrava por isso também as nossas perspetivas demográficas,
seja condicionando a natalidade, seja empurrando as pessoas para fora do País, como aconteceu massivamente
durante a crise e a governação da direita. Compromete também o bom funcionamento das empresas,
desincentiva o investimento em formação, desvaloriza e esvazia o potencial do nosso capital humano e
compromete a produtividade da economia.
Por isso, este é um debate que é necessário, porque, apesar da melhoria generalizada do emprego, nos
últimos três anos, e apesar de termos conseguido reduzir os níveis de contratação não permanente, Portugal
continua a ter níveis excessivos de precariedade e, em particular, níveis excessivos de contratação a termo.
É por tudo isto que este é um debate urgente e que tem sido capaz de reunir consensos alargados, ainda há
pouco impensáveis, na sociedade portuguesa.
Mas, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, por tudo isto — pela justiça, pela importância, pela necessidade
e pela urgência —, este é, acima de tudo, um debate que tem de ter uma tradução prática. E que tem de ter uma
tradução em medidas concretas e consequentes, medidas que permitam melhorar os equilíbrios do nosso
mercado de trabalho, medidas que reforcem efetivamente a contratação sem termo e as condições de dignidade
e de proteção social das trabalhadoras e dos trabalhadores portugueses.
Foi esse o espírito e o objetivo da proposta de lei que o Governo apresentou a esta Assembleia, no ano
passado, com dezenas de medidas concretas para reduzir a margem da precariedade, em Portugal. É uma
proposta de lei que reduz a duração máxima dos contratos a termo para um mínimo histórico de dois anos, que
limita a contratação a termo, eliminando, desde logo, a norma que permite que jovens ou desempregados de
longa duração assim sejam contratados, sem qualquer outra justificação, mas assegurando que não
prejudicamos a entrada de jovens no mercado de trabalho.
É uma proposta de lei que reforça, através de diferentes instrumentos, os incentivos à contratação
permanente e que cria, desde logo, uma taxa sobre as empresas que, em cada setor, denotem excesso de
rotatividade em consequência da precarização.
É uma proposta de lei que introduz também, e pela primeira vez, limites ao número de renovações do trabalho
temporário, que garante aos trabalhadores temporários o acesso aos direitos da negociação coletiva desde o
primeiro dia da sua colocação e que aumenta a responsabilização das empresas face aos trabalhadores.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, estes são alguns exemplos, mas outros poderia aqui citar. São
medidas concretas que concorrem não só para combater a precariedade e reduzir a segmentação mas também,
e sobretudo, para melhorar a qualidade do emprego a todos os níveis: mais estabilidade, mais segurança,
melhores horizontes de qualificação e progressão profissional, melhores remunerações. São medidas concretas
que representam para todos aqueles que se preocupam com esta questão tão delicada, tão justa, tão importante
e tão premente, mas, acima de tudo, para todos os trabalhadores, todas as famílias, todos os jovens que vivem
as situações de precariedade, progressos inequívocos num combate que nos deve mobilizar a todos, progressos
inequívocos para a qualidade do emprego, progressos inequívocos para reduzir as desigualdades e a
segmentação, progressos inequívocos para enfrentar, de modo integrado e consistente, um dos desafios
estruturais mais relevantes do nosso mercado de trabalho e da nossa sociedade.
É por isso que o Governo tem a esperança de que o debate de hoje tenha sido mais um contributo para que
o debate mais amplo que tem decorrido na sociedade portuguesa e que está agora, nas últimas fases, na
Assembleia da República tenha uma tradução sólida, prática e consequente.