I SÉRIE — NÚMERO 89
6
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — O Governo quis seguir um caminho que colocava os direitos dos acionistas
privados à frente da declaração de interesse público e, em resultado, em vez de sair com uma posição
maioritária, foi a Altice quem assumiu esse papel. Mais uma vez, a conclusão parece óbvia: o Sr. Ministro da
Administração Interna foi comprar lã e acabou tosquiado.
Aplausos do BE.
O Estado acabou por assumir apenas a posição da Galilei, com 33% do capital, e garantir o direito a indicar
dois dos sete administradores da sociedade e foi incapaz de comprar as participações da ESEGUR e da
Datacomp, porque a Altice se atravessou à frente.
O Governo prometeu que o Estado seria maioritário, mas não cumpriu. Pior: pagou mas não manda nada,
porque a garantia da presença dos administradores indicados pelo Estado também continua por cumprir, e,
mais, prometeu apurar responsabilidades e cobrar multas pelos incumprimentos mas, até agora, nada. O
Governo prometeu, mas não cumpriu!
O falhanço da estratégia do Governo resultou, sim, num reforço da posição da Altice, que faz agora o que
quer e o que bem entende. Veja-se bem que até se sentiu à vontade para ameaçar o País com a suspensão
das ligações de satélite, o mecanismo essencial de redundância da rede, e em plena época de incêndios em
Portugal!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Quase dois anos depois deste comunicado do Conselho de Ministros e desta
intenção do Governo, as tentativas negociais para que o Estado assuma o controlo da SIRESP, SA, continuam
sem fim à vista. No dia 13 de maio, o Sr. Primeiro-Ministro anunciou que estaria «por horas» a conclusão do
processo negocial. Contudo, mais de duas semanas depois não existem quaisquer conclusões. Mais uma vez,
o Governo prometeu, mas não cumpriu.
Chegámos a esta situação preocupante e perfeitamente evitável: em pleno período crítico de incêndios,
continuam sem estar garantidas as condições para o eficaz funcionamento da rede de comunicações de
emergência.
As conclusões que se retiram de toda esta embrulhada são, mais uma vez, óbvias. A primeira é que a gestão
do SIRESP falhou na proteção e segurança das populações e foi ruinosa para o erário público. Continuarmos
reféns de privados que já falharam é insistir num erro inaceitável, é dar um bónus a quem coloca o lucro acima
da defesa das populações e da segurança do País.
A segunda conclusão é que só uma gestão orientada pelo interesse público poderá cumprir esse desígnio
de segurança e proteção de forma desinteressada.
A terceira é que o Governo tem de emendar a mão,…
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, a partir de agora, o tempo da sua intervenção começa a descontar no
tempo disponível do Bloco de Esquerda.
Faça favor de prosseguir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Muito obrigada, Sr. Presidente.
Como estava a dizer, a terceira conclusão é que o Governo tem de emendar a mão, reconhecer o erro e
arrepiar caminho. Estamos em plena fase crítica dos incêndios florestais e temos de garantir a segurança
máxima das nossas populações.
O Sr. Ministro da Administração Interna já disse ontem de sua justiça, em audição na 1.ª Comissão, tendo
todos os argumentos que justificam a tutela pública do SIRESP na sua mão. Mas o Governo continua
embrulhado nas teias da Altice. E o Sr. Ministro disse mais: disse que a embrulhada das negociações não era
da sua responsabilidade mas, sim, do Ministério das Finanças. Esperemos que Mário Centeno compreenda o
recado, já que assumiu um lugar absolutamente central nesta má fotografia em que o Governo fica. A ausência,
neste debate, do Ministério da Administração Interna ou de alguém do Ministério das Finanças pode deixar a