8 DE JUNHO DE 2019
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Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, o Sr. Secretário de Estado não dispõe de tempo para responder.
Assim sendo, tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Paulo Sá, do PCP.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: A supervisão do
sistema financeiro falhou redondamente e esse clamoroso falhanço teve custos elevadíssimos para o erário
público. Lembremo-nos do escândalo do BPN (Banco Português de Negócios) que custou aos contribuintes, até
agora, 4000 milhões de euros, do colapso do BES (Banco Espírito Santo), que já vai em quase 7000 milhões de
euros, ou do afundamento do Banif (Banco Internacional do Funchal), que exigiu mais de 3000 milhões de euros
de dinheiros públicos.
Sempre que o Estado foi chamado a intervir para tapar os buracos de uma irresponsável e incompetente
gestão privada, que, em alguns casos, foi mesmo criminosa, os defensores dessa gestão privada apressaram-
se a apontar o dedo à insuficiência da supervisão e à inação dos supervisores. Com isto, tentaram desviar a
atenção da verdadeira causa dos sucessivos descalabros da banca nacional: o facto de a banca, em vez de ser
um serviço público, se ter transformado num negócio privado, onde o objetivo central é a maximização dos lucros
dos acionistas no mais curto intervalo de tempo, mesmo que para atingir esse objetivo se tenha de comprometer
a viabilidade futura das instituições financeiras.
Se a causa profunda dos problemas do sistema financeiro é a natureza privada da sua gestão, então a
solução passa não por sucessivas reformas do sistema de supervisão, não pela adição de sucessivas camadas
de regulamentação, mas, sim, pelo controlo público desse sistema financeiro, colocando-o ao serviço das
necessidades de desenvolvimento do País.
Tal como o PCP vem defendendo, a necessidade de conter os grandes riscos sistémicos que persistem para
a economia, de impedir mais transferências de prejuízos privados para o povo português, de garantir a solvência,
a liquidez e o funcionamento regular das instituições financeiras, e, numa perspetiva mais vasta, de travar a
especulação financeira, de canalizar as poupanças e os recursos financeiros para o investimento na produção
nacional, de impulsionar um crescimento sustentável e de defender a soberania exige o controlo público do
sistema financeiro.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: O Governo traz hoje a debate uma proposta de
criação do sistema nacional de supervisão financeira e de regulação do seu funcionamento. Mantém as três
atuais autoridades de supervisão — o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e a
Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões —, propõe o reforço das funções do Conselho
Nacional de Supervisores Financeiros, cria uma nova autoridade de resolução bancária — a autoridade de
resolução e administração de sistemas de garantia —, passando todas estas entidades a constituir o sistema
nacional de supervisão financeira.
De uma forma resumida, podemos dizer que o Governo baralha e dá de novo, mas o jogo continua viciado,
pois este Governo, tal como os anteriores, persiste na ideia de que a resolução dos problemas do setor financeiro
se resolve com alterações, mais ou menos profundas, na arquitetura e nos modelos de supervisão, e alimenta
a ilusão de que as sucessivas reformas se traduzirão em mecanismos de supervisão mais completos e robustos.
Destas alterações propostas pelo Governo, provavelmente não virá mal ao mundo, mas também não
contribuirão para que algo de substancial mude na capacidade de intervenção das autoridades de supervisão
no funcionamento do sistema financeiro. São alterações que implicam novos custos, novos organismos e uma
reorganização da interação dos supervisores, sem qualquer garantia de que isso se traduza num benefício
palpável.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Nas últimas décadas, tem avançado a tese de
que a política monetária não deve estar subordinada ao poder político. Na União Europeia, esta tese traduziu-
se na criação de bancos centrais em larga medida independentes dos órgãos de poder democraticamente
eleitos, mas totalmente dependentes, porque capturados pelos centros de poder financeiro.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!