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I SÉRIE — NÚMERO 94

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O primeiro problema identificado é a colaboração e a troca de informação entre supervisores, que se

encontram, neste momento, em diferentes níveis de poder, com o Banco de Portugal a reclamar para si um

estatuto de superioridade e de supremacia.

A solução encontrada por esta proposta passa pela criação de um sistema nacional de supervisão financeira,

que coordena o trabalho dos diferentes supervisores, a que acrescenta uma autoridade de resolução e o

Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, que fica, para além da função de coordenação, com a política

macroprudencial.

Nós achamos que esta é uma escolha certa. A supervisão macroprudencial tem de ser transversal a todos

os supervisores e o que temos de garantir é que haja recursos necessários e que fique bem claro quem tem o

poder para determinar ações de supervisão macroprudencial.

O segundo problema — identificado, aliás, pelo Banco de Portugal — é um conflito de interesses que existe

quando o Banco de Portugal se coloca ao mesmo tempo na função de supervisor e na função de

pseudoacionista, coordenador da instituição de resolução que coordena bancos que foram resolvidos.

Faz sentido que o Banco de Portugal mantenha poderes de decisão da resolução bancária, mas faz sentido

que partilhe esses poderes com outras instituições de supervisão, para não voltarmos a passar pela vergonha

de se autorizar uma resolução bancária sem que a CMVM soubesse do que se estava a passar no BES, por

exemplo.

Mas a gestão dos bancos em resolução não tem de estar no Banco de Portugal, não deve estar no Banco

de Portugal e tem de ser atribuída, e bem, a outra instituição, como esta proposta nos traz.

Terceiro ponto: acabar com o estatuto de absoluta exceção gozado pelo Banco de Portugal, que deriva de

uma confusão que o Banco de Portugal aproveita, que é o seu estatuto e privilégio como autoridade monetária

e o seu estatuto como supervisor da banca.

Fica muito claro esta diferença de estatutos quando esta proposta chama o Banco de Portugal a contribuir,

como qualquer outro supervisor, para a Autoridade da Concorrência. Nós podemos dizer que concordamos ou

não com as contribuições dos supervisores para a concorrência, mas o que não faz sentido é que o Banco de

Portugal seja o único supervisor que fica excluído de forma privilegiada desta contribuição.

Fica também claro quando se aplicam ao Banco de Portugal regras legais de gestão de dinheiro público. O

Banco de Portugal é uma instituição pública, não está acima de escrutínio e tem obrigação de cumprir regras

legais na gestão do seu orçamento e do dinheiro público.

Temos de começar a separar uma coisa, que é a independência do supervisor, que não é confundível com

independência da entidade monetária, de uma outra coisa, que é a inimputabilidade, opacidade e ausência de

escrutínio. Num regime democrático, nenhuma instituição está acima de escrutínio, não há lugares inamovíveis,

nem para o Banco de Portugal!

Por isso, temos de ter regras claras para a exoneração. Incompetência, falha grave é motivo de exoneração,

sim! Conflito de interesses é motivo de exoneração, sim! O lugar de governador não pode ser uma redoma

dourada para proteger incompetentes e gente em conflito de interesses. Não podemos mais ouvir Vítor

Constâncio, numa comissão de inquérito, a dizer que não se lembra de nada, quando meses depois sabemos

que conhecia os créditos a Berardo. Não podemos mais ter Carlos Costa à frente do Banco de Portugal, depois

de sucessivas comissões de inquérito terem encontrado falhas graves e depois de o próprio Governador ter

passado pelo BCP, na altura dos offshore, e pela Caixa, na altura dos créditos mais ruinosos. É isto que coloca

em causa a credibilidade do sistema.

PS e PSD — termino, Sr. Presidente — estão tão preocupados com a independência face ao poder político,

mas estão menos preocupados com a transparência, com a competência e com a independência face aos

supervisionados.

O Sr. Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Lembramo-nos bem do papel de Carlos Costa em manter Ricardo Salgado

à frente do BES, lembramo-nos bem de todos os erros que foram cometidos e queremos clareza neste regime

que, com certeza, discutiremos na especialidade para que seja melhorado.

Aplausos do BE e do Deputado do PS Ascenso Simões.