I SÉRIE — NÚMERO 95
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bagaço de azeitona têm de cumprir a lei e têm de criar condições para não poluírem. São assuntos
independentes, não vamos misturá-los e confundir as pessoas. Tem de se cumprir a legislação ambiental.
Há um outro problema, relacionado com as aves e a apanha noturna. É um problema? Vejamos, porque a
própria BirdLife duvida que seja um problema; questiona-o e diz que se deve avaliar. Também tivemos cá, salvo
erro, o presidente do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), que nos disse — e o Sr.
Ministro também já nos disse — que isso vai ser avaliado. Só que, Sr.as e Srs. Deputados, o olival colhe-se de
outubro a fevereiro e, portanto, só nessa altura é que se vai poder fazer essa avaliação, e não agora, quando
os senhores decidem.
Mais uma vez, em vez de proibir a apanha noturna, que é aquilo que os senhores pretendem, vamos estudar.
Vamos ver quais são os locais dormitório, onde é que as aves dormem, se dormem só em algumas zonas e não
dormem noutras, para se decidir onde é que se pode colher de noite e onde é que tem de se colher de dia. Se
isso não for suficiente, pode-se, por exemplo, espantar as aves para elas levantarem voo e não estarem lá
durante a colheita. Há um conjunto enorme de soluções que devemos procurar, antes de proibir. Os senhores
gostam muito de proibir.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, peço-lhe para concluir.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Para concluir, Sr. Presidente, deixo só esta nota: quando se fala da
preocupação com a transformação da paisagem, gostava de perguntar a Os Verdes, ao Bloco de Esquerda,
aliás, a todos os partidos aqui presentes, se algum dos senhores critica e põe em causa a paisagem do Alto
Douro Vinhateiro, profundamente transformada pelo homem, talvez a mais transformada, e a paisagem da
cultura da vinha da Ilha do Pico, que são, nem mais nem menos do que património da humanidade. Representam
uma monocultura intensiva de vinha que ninguém põe em causa, que não traz problema algum, que todos
gostamos de ver. E todos gostamos de beber esses vinhos.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem mesmo de terminar.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Portanto, esta é uma discussão completamente demagógica que o
CDS não pode acompanhar.
Aplausos do CDS.PP.
O Sr. Presidente: — Pelo Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ângela Moreira.
A Sr.ª Ângela Moreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O
crescimento desmesurado das culturas agrícolas intensivas e superintensivas é motivo de justas preocupações.
A integração na União Europeia fomentou o encerramento de milhares de explorações agrícolas e levou a
que pequenos e médios produtores deixassem as suas explorações, abrindo o caminho ao modo de produção
intensiva e superintensiva, à exploração do lucro fácil e rápido. Um modo de produção que assenta na sobre-
exploração da terra, com plantações em compassos muito reduzidos, com consumos de água bem superiores
aos tradicionais e uma utilização massiva de agroquímicos.
A intensificação destas culturas constitui, por si só, um elevado risco para o ambiente pela exposição a
agentes bióticos nocivos, pela intensificação da utilização de pesticidas para controlo de pragas, que, recorrendo
a pulverização aérea e a alta pressão, vão contaminando o solo, os recursos hídricos, a fauna, a flora e as
populações, pela aniquilação da biodiversidade.
A permissividade dos sucessivos Governos, esta inércia mascarada de preocupação com o ambiente e com
as alterações climáticas, vem fundamentar as preocupações do PCP. Enquanto prevalecerem interesses
economicistas e preocupações com o lucro, o planeta perde o lugar central que lhe é devido, lugar que continua
ocupado pelo grande capital.
Prova disto é o regime jurídico da avaliação de impacte ambiental dos projetos suscetíveis de produzirem
efeitos significativos no ambiente, onde é feita referência a projetos agrícolas. Aqui, uma vez mais, tudo parece
ser feito à medida do lucro fácil e rápido, estando o regime de avaliação de impacte ambiental assente na