I SÉRIE — NÚMERO 95
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dizer —, lembro-lhe que, há muitos anos, também se defendia muito as monoculturas de eucalipto por esse País
fora.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Era o futuro!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sim, o Sr. Ministro lembrar-se-á: dizia-se que dava muito emprego,
que gerava uma dinâmica económica imensa para a nossa floresta! Hoje, acho que já toda a gente consegue
perceber o rastilho que se espalhou por este País fora. Sabe para que dinâmica, Sr. Ministro? Dos fogos
florestais. Agora lembre-se o Sr. Ministro o que se perdeu em termos de emprego com esse drama dos fogos
florestais e o que se tem perdido na nossa floresta. Por que é que estamos a lutar hoje? Pela floresta autóctone,
Sr. Ministro. Não temos nada contra a espécie eucalipto, mas, sim, contra as imensas manchas de monocultura
de eucalipto. Essa é que foi uma das desgraças da nossa floresta.
Sobre este debate em concreto, vamos ver se não cometemos o mesmo erro relativamente ao olival intensivo
com outras consequências, designadamente consequências graves para as alterações climáticas: saturação de
solos, desertificação de solos e consumo de água. E vamos ver se, daqui a uns anos, não estamos todos de
mãos na cabeça a dizer: «O que é que andámos a fazer? Precisamos, de facto, de olival tradicional». Os Verdes,
Sr. Ministro, estão a alertar em tempo útil.
O Sr. Ministro queria um debate sério, mas foi o Sr. Ministro que contribuiu para um debate pouco sério, ao
ter dito que tudo isto tem custos ambientais mas que pôr uma horta à porta de casa também tem custos
ambientais. Sr. Ministro, quer comparar essas duas realidades? Acho que dizer isso é mesmo não levar a sério
aquilo que se está a discutir. O Sr. Ministro também disse: «Os senhores estão a contribuir para que as pessoas
considerem que consumir azeite é muito perigoso». Sr. Ministro, pelo amor de Deus! Sinceramente, isso não é
dar seriedade ao debate, e o Sr. Ministro sabe perfeitamente que não é isso que está em causa.
Se quer falar de qualidade, se calhar temos mesmo de falar do olival tradicional e, se calhar, temos mesmo
de remeter a lógica da quantidade para o olival intensivo e superintensivo, porque essa era a primeira prioridade
deste tipo de modelo, digamos assim, de olival.
O Sr. Ministro também não traz seriedade ao debate quando diz: «Não temos a certeza se há mortandade
de aves ou não decorrente da recolha mecânica da azeitona, mas, se houver, é porque a biodiversidade existe».
Sr. Ministro, sinceramente, isso traz pouca seriedade ao debate!
O Sr. Ministro quer um eufemismo para a questão do superintensivo, mas também não vale a penar estar a
escamotear a realidade, porque sabe que quando as culturas são de grande densidade usam mais pesticidas e
mais fertilizantes. Sim, o Sr. Ministro sabe que, com essas culturas de grande densidade, há mais problemas
fitossanitários. Estes problemas alastram-se de uma forma completamente diferente e mais rápida.
O Sr. Ministro sabe isso, como sabe, também, que a carga ambiental destas culturas intensivas e
superintensivas é muito maior. O problema da saturação dos solos coloca-se de uma forma mais intensa e o
problema relativamente à utilização do recurso à água coloca-se igualmente de uma forma mais intensa.
Sr. Ministro, já devíamos ter aprendido com problemas que se criaram no passado. Estamos sempre a dizer
que as questões económicas não são incompatíveis com as questões ambientais, mas quando se coloca no
prato da balança ou quando se tem de decidir sobre uma matéria económica ou uma matéria ambiental, pois a
matéria económica continua sempre a valer, mesmo que os impactos ambientais sejam brutais e possam trazer
problemas muito sérios no futuro.
Um dos problemas dos sucessivos Governos é o de terem tido uma visão de muito curto prazo e de não
terem visão de médio e longo prazo. Estamos a confrontar-nos com um problema sério relativamente às
alterações climáticas — e vou repetir isto, Sr. Ministro —, que requerem, que pedem urgentemente propostas e
medidas de adaptação na área agrícola. O Sr. Ministro devia estar a dar passos largos no sentido da adaptação
do nosso território à mudança climática. E volto a referir que há estudos concretos sobre o Alentejo que ditam
que, se tudo continuar na mesma, vamos ter um problema sério de desertificação de solos.
Depois, venham cá falar de soberania alimentar, Sr. Ministro! Depois, não temos onde cultivar! Portanto, veja
bem o que estamos a fazer no presente com impacto no futuro.
Mesmo para terminar, também gostaria de dizer ao Sr. Ministro que é bom ouvir as populações e aquilo com
que elas se confrontam no dia a dia. Não podem estar as populações todas erradas, os autarcas todos errados,