14 DE JUNHO DE 2019
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Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Norberto Patinho, a exemplo do que aconteceu com o Governo, o tempo
usado a mais será descontado na segunda ronda.
Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.
Ministro, permita-me que comece esta intervenção não pelo tema em debate, mas por referir uma tentativa de
mascarar a realidade, que a direita aqui trouxe e que é, para nós, inaceitável. É inaceitável, porque, ao negar a
realidade, a direita pretende negar também o avanço que a maioria parlamentar conseguiu nos últimos anos na
defesa de trabalhadores, que eram brutalmente explorados, muitas vezes de forma selvagem, retirando-lhes
direitos, negando-lhes passaportes e dizendo que eles ainda estavam em dívida para com as empresas.
Vozes do BE: — Muito bem!
Protestos da Deputada do CDS-PP Patrícia Fonseca.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Esta realidade de século passado era a realidade do nosso País,
comprovada por autoridades policiais.
Por isso, quando a direita aqui vem dizer que não houve, nem há, exploração de pessoas em muitos dos tais
olivais intensivos ou outras culturas intensivas e superintensivas não quer apenas mascarar a realidade, quer
negar direitos a todos os trabalhadores, porque ao negar o abuso perante uns maltrata todos, e isso nós não
aceitamos, não podemos aceitar. Esta direita, que quer compactuar com esse abuso, ficará com essa
responsabilidade.
Nós demos passos para salvaguardar o interesse destes trabalhadores e orgulhamo-nos desses passos,
porque a escravatura não pode ter lugar no século XXI e muito menos em Portugal.
Sr. Ministro, sobre o debate, em concreto, que aqui foi trazido, há algumas ideias relevantes que é importante
deixar.
Um primeiro aspeto tem a ver com o facto de não podermos basear todo este debate naquilo que o Sr.
Ministro tentou fazer — e o PS tentou repetir —, ao afirmar que não há nenhum tipo de indicação científica para
os malefícios que a cultura intensiva ou superintensiva pode trazer.
A própria ONU (Organização das Nações Unidas) reconhece que há perigos diversos. Aliás, este tipo de
culturas começa por poder atacar a fauna — pode atacar a comunidade de insetos, por exemplo —, por poder
atacar os lençóis freáticos, por poder atacar a qualidade de vida das populações. Essa realidade existe e é um
problema que deve ser resolvido.
Desse ponto de vista, quando olhamos para o Alqueva, percebemos que esta realidade é confrontada com
interesses económicos inequívocos.
O Sr. Ministro disse que há uma grande exportação do derivado dos olivais,…
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Azeite! O derivado dos olivais é o azeite!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — … do azeite e de outros bens, e esse interesse económico não nos pode
toldar o olhar para a realidade tal como ela é.
Sabemos que há, de facto, na cultura intensiva e superintensiva do olival, um retorno económico muito maior
do que na cultura tradicional. A pergunta que fazemos é esta: com que custo para o meio ambiente, com que
custo para a agricultura no nosso País, com que custo para o futuro daquelas terras? Este é o ponto que
queremos focar para começarmos esta discussão.
O Sr. Ministro diz que não há nenhuma validade científica que coloque em causa estes problemas, mas nós
tivemos várias ONG (organização não governamental), que em muitos casos são completamente idóneas, como
é o Centro de Estudos da Avifauna Ibérica, a Liga para a Proteção da Natureza, a Associação Nacional de
Conservação da Natureza – Quercus ou a SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), que disseram