I SÉRIE — NÚMERO 102
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o caracter disruptivo da inovação. A sua ideia de destruição criadora não tem nada que ver, apesar de tudo, com
o diabo inventado pela direita portuguesa, numa alusão catastrófica, mas deliberadamente primária, à diferença
de pensamento político e de ação governativa entre nós e eles.
A destruição criadora de Schumpeter tem que ver com a necessidade de adaptação num ambiente que
evolui, que é competitivo e em que só sobrevive quem se adapta, como, aliás, também defendia outro clássico,
um naturalista da sua época, Darwin, com a sua inspiradora teoria da evolução humana, em que apenas os mais
adaptados sobreviviam. É essa adaptação que nos traz a inovação e que garante que empresas, regiões e
países evoluam.
Infelizmente, houve tempos em que partidos com responsabilidade de governo não compreenderam o papel
central da ciência, permitindo que o País tombasse de um processo de crescimento de intensidade tecnológica
extraordinário, iniciado, aliás, no ano 2000, atingindo picos de despesa em investigação e desenvolvimento em
2009 e em 2010 mas que entre 2011 e 2015 observou um retrocesso que comprometeu a meta essencial de
assegurar que chegaríamos aos 3% do PIB na investigação e desenvolvimento (I&D).
Sobre isto permitam-me voltar a Schumpeter, porque estou certo que se ele analisasse este fenómeno
acrescentaria outra ideia na linha da anterior, mas agora a da tendência para a «criação destruidora»,
demonstrada pela direita portuguesa, que travou bruscamente um dos eixos mais importantes para o
crescimento económico e para a recuperação da produtividade, ainda hoje, aliás, um dos grandes desafios do
País.
Sr. Presidente, é por isso que o PS não podia terminar esta Legislatura sem fixar a importância da ciência,
não apenas na sua vertente pura e dura de produção de investigação fundamental, cujos resultados são notórios,
mas de criação de valor e pilar essencial para o desenvolvimento, conforme facilmente demonstra a observação
empírica.
É por esta constatação que o Grupo Parlamentar do Partido Socialista, desde o início do seu mandato, saiu
à rua para procurar o País da inovação e para ajudar a implementar a única estratégia aceitável para recuperar
o tempo perdido e os níveis de investimento em investigação e desenvolvimento, mas também no
empreendedorismo, na transferência de tecnologia e no apoio à inovação dentro das PME (pequenas e médias
empresas) portuguesas.
Srs. Deputados, de Vila Real ao Algarve, dos Açores à Guarda, de Bragança a Évora, de Coimbra a Beja, da
Madeira a Portalegre ou a Viseu, portanto, sempre fora dos grandes centros urbanos, conhecemos e foi-nos
demonstrado que é também através da economia do conhecimento que se trava a luta da interioridade.
A batalha da coesão está hoje mais robusta e mais eficaz porque as opções políticas deste Governo, que,
por exemplo, melhoraram a autonomia financeira das empresas ou que apoiaram a despesa em I&D nas PME
ou as condições para atração de investimento direto estrangeiro (IDE) para fora dos grandes centros,
consolidaram a valorização do interior, fixaram populações e atraíram recursos qualificados. Nestes lugares que
visitámos ao longo dos quatro anos, encontramos a Kathrein Automotive, em Vila Real, a fundação Rebikoff-
Niggeler (FRN), nos Açores, a Vale D’Aldeia, na Guarda, a Quinta dos Castelares, em Bragança, a Embraer,
em Évora, a Evertis, em Portalegre, ou a Visabeira, em Viseu. Todas estas empresas trabalham no mercado
internacional, são muito competitivas e são um exemplo, entre muitas outras, da esperança do País e do futuro
do próprio interior.
Aplausos do PS.
Já não estamos na cauda da Europa porque progredimos fortemente nos últimos quatro anos e estamos
muito próximos de passarmos a integrar o grupo dos países mais inovadores da Europa.
Mas, Sr. Presidente, há um dado relevantíssimo que os indicadores europeus nos mostram: o País contrariou
um certo paradoxo, muito europeu, em que grande parte da investigação e desenvolvimento tem origem no
Estado, dificultando o aparecimento da inovação porque ocorrem obstáculos entre os laboratórios e as
universidades públicas para transformar a produção de ciência em valor, ou seja, para transferir a tecnologia
para o mercado e gerar negócio através das empresas.
Os dados apontam, também aqui, que estamos a fazer caminho, com as PME portuguesas a investir cada
vez mais em investigação, permitindo assim saltar a etapa da transferência de conhecimento, quase sempre
muito complexa e impeditiva da geração de negócio.