I SÉRIE — NÚMERO 103
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Ora, temos tomado aqui medidas contra os maus tratos aos animais e temos tido dificuldades em fazer frente,
enquanto sociedade, ao abandono de cães e gatos, uma das razões pelas quais os centros de recolha oficial
de animais dizem não conseguir responder à lei do não abate. Temos introduzido na legislação alteração da
perspetiva relativamente aos animais, dotando-os de personalidade jurídica e assumindo que são seres
sencientes e temos, agora, uma legislação que protege os animais de companhia dos maus tratos. Tudo isso
seria suficiente para que as corridas de galgos não ocorressem em Portugal, mas o que se verifica é que estas
existem, envolvem várias práticas obscuras e são omissas na legislação, o que, no nosso entender, não faz
sentido.
É nesta perspetiva que pretendemos incluir esta corrida no âmbito da lei de maus tratos aos animais de
companhia e que leva logicamente à proibição desta prática.
Se queremos combater o abandono dos animais e os seus maus tratos, não podemos ser coniventes com a
existência de práticas que ganham com a reprodução descontrolada de cães e que os descartam quando estes
não são necessários, seja por não corresponderem às características físicas necessárias à nascença, seja por
deixarem de poder correr e terem de ser substituídos por outros.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, tem a palavra, em nome do Grupo
Parlamentar do Partido Social Democrata, o Sr. Deputado Nuno Serra.
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Estamos novamente a debater o
desconhecimento e a deturpação de factos, que têm, neste caso, como objetivo único, a alteração da natureza
animal. Tudo a soldo de uma vontade obsessiva de dois partidos, o PAN e o Bloco de Esquerda, que querem
ser, hoje, os novos criadores da natureza.
Inadmissivelmente, os dois projetos de lei em causa proíbem corridas de cães — ponto final!
Inacreditavelmente, sem qualquer regulamentação ou mais definições. O que levaria, por absurdo, se isto
passasse aqui, em Portugal, a que, por exemplo, qualquer um de nós que fosse apanhado a correr com dois
cães estivesse a prevaricar a lei.
Risos do Deputado do PAN André Silva.
E não estou a falar do homem, porque, por enquanto, o Bloco de Esquerda e o PAN ainda acham que o
homem pode correr e até participar em provas de atletismo.
Aplausos do PSD.
Protestos do BE.
Risos do Deputado do PAN André Silva.
Outro exemplo absurdo seria atirar uma bola para que dois cães a fossem apanhar. Aí, estaríamos, por
exemplo, a condenar uma inocente criança a um crime de lesa-pátria, por ter posto dois cães a correr.
Srs. Deputados, mais ainda: o PAN e o Bloco de Esquerda dizem que existem apostas nas corridas de cães.
Surpreendentemente, os Srs. Deputados não usam as vossas funções soberanas para pôr termo a este ilícito,
nem sequer para o denunciar. Querem apenas acabar com as corridas de cães. Portanto, continuam as apostas
ilícitas, mas o que tem de acabar são as corridas de cães.
Risos do Deputado do PAN André Silva.
Este é o caminho que os Srs. Deputados nos querem impor, com todo o vosso desconhecimento do mundo
real, aquele mundo que não se avista lá do fundo dos vossos apartamentos, ou que nem sequer é vivido nas
vossas redes sociais.